Michael Jackson e a verdadeira história de ‘Gone Too Soon’, a canção símbolo da luta contra a AIDS

Era uma madrugada qualquer de fevereiro de 1983 quando o telefone de Buz Kohan tocou incessantemente. Do outro lado da linha, uma voz familiar sussurrou: “Desculpe, eu te acordei? Buzzie está aí?” Era Michael Jackson. Naquele momento, ninguém poderia prever que aquela ligação seria o início de uma história profundamente comovente que cruzaria amizade, dor e arte.

Michael, então com 24 anos, acabara de assistir a um especial televisivo sobre artistas que partiram cedo demais. Entre lágrimas, ele se emocionou com uma canção tocante interpretada por Dionne Warwick: Gone Too Soon, escrita por Buz Kohan.

Movido por uma conexão inexplicável, Michael declarou que um dia gravaria a música. Kohan, generosamente, ofereceu-lhe a canção: “É sua quando você quiser.”

Sete anos se passaram. Durante uma conversa casual com Buz em 1990, Michael mencionou um jovem chamado Ryan White, cuja história ele havia conhecido recentemente.

Ryan era um adolescente hemofílico que contraiu o vírus da AIDS em uma transfusão de sangue. Em um tempo de preconceito e desinformação devastadores, Ryan sofreu ostracismo e humilhações, mas enfrentou tudo com coragem. Michael encontrou no jovem uma alma resiliente, alguém que, como ele, sabia o que era viver à margem.

A amizade entre Michael e Ryan transcendeu barreiras. Nos meses seguintes, Ryan e sua família visitaram Neverland inúmeras vezes, buscando refúgio em um lugar onde o garoto finalmente era tratado com amor e respeito. No aniversário de 18 anos de Ryan, Michael realizou um de seus sonhos, presenteando-o com um Mustang vermelho. Mas o destino foi implacável: apenas quatro meses depois, Ryan faleceu.

Devastado, Michael voou para Indiana para se despedir. No quarto do amigo, cercado de lembranças, ele murmurou: “Eu não entendo porque uma criança tem que morrer. Eu realmente não entendo.”

Foi então que Michael decidiu transformar sua dor em legado. Ele retornou a Gone Too Soon, agora carregada de um propósito maior: homenagear Ryan e todas as vítimas da AIDS.

A gravação aconteceu em um estúdio escuro em Los Angeles, onde Michael, imerso em sua emoção, colocou toda sua alma na canção. “Não houve exagero ou pretensão. Foi pura emoção”, recordou Kohan.

Lançada em 1º de dezembro de 1993, no Dia Mundial da AIDS, Gone Too Soon não era apenas uma música. Era um manifesto. Sua letra, que celebrava a beleza e a fragilidade da vida, ganhou ainda mais significado quando Michael a apresentou ao vivo em janeiro daquele ano, em uma gala em homenagem ao presidente eleito Bill Clinton.

Durante o evento, Michael compartilhou um discurso emocionado, clamando por mais recursos e atenção para combater a doença que ceifara tantas vidas.

A história de Gone Too Soon transcende os limites da música. É um lembrete de que a arte tem o poder de eternizar histórias, de dar voz àqueles que foram silenciados e de transformar a dor em esperança.

Para Michael Jackson, a promessa feita a Ryan White – de nunca deixar sua memória se apagar – tornou-se uma missão de vida. E para o mundo, Gone Too Soon permanece como um tributo inesquecível à amizade, à empatia e à luta pela dignidade humana.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *