O roubo de ingressos do show de Michael Jackson no Brasil

O Brasil de 1993 estava prestes a testemunhar um espetáculo histórico. Pela segunda vez, Michael Jackson, o homem que redefiniu a música pop mundial, pisava em solo brasileiro para duas apresentações no Estádio do Morumbi, em São Paulo. A turnê Dangerous prometia ser um marco, tanto na música quanto na logística. O que poucos sabiam é que, nos bastidores, um drama policial envolvendo armas, ladrões e tecnologia de ponta quase ofuscaria o brilho do show.

A operação para trazer o Rei do Pop envolvia cifras astronômicas e uma estrutura sem precedentes. Dois aviões Antonov An-124, vindos do exterior, desembarcaram cerca de 400 toneladas de equipamentos. O palco era gigantesco, os efeitos visuais, revolucionários. Tudo estava sendo preparado nos mínimos detalhes. Até que, no dia 13 de outubro, dois dias antes da primeira apresentação, um assalto armado abalou os corredores do shopping West Plaza, na zona oeste de São Paulo.

O alvo? Quatro mil ingressos recém-chegados à loja física da produtora, com valores que iam de 2.200 cruzeiros em diante. Os ladrões, fortemente armados, renderam dois seguranças e uma funcionária, fugindo com o carregamento. Era um prejuízo milionário. A notícia ganhou manchetes em jornais como Folha de S. Paulo, provocando preocupação imediata em fãs e autoridades. Haveria necessidade de cancelar o show? A segurança dos espectadores estava em risco?

Foi então que a genialidade entrou em cena. Pela primeira vez no Brasil, a produtora DC-Set havia importado um sistema de ingressos com chip eletrônico — uma tecnologia jamais usada em eventos do país até então. Cada bilhete possuía uma tarja magnética que, ao passar pelas catracas do Morumbi, validava ou negava o acesso do portador. Com isso, bastou invalidar digitalmente o lote roubado para neutralizar os ingressos furtados. Nem cambistas conseguiram agir.

O responsável pelo controle dos ingressos, Leonardo Amaral, garantiu que tudo seguiu conforme o plano, apesar do susto. Além do bloqueio tecnológico, a produtora tinha seguro contra esse tipo de roubo, o que amenizou as perdas financeiras. Michael Jackson nunca deixou de ser o centro das atenções — mas, por um breve momento, o protagonismo foi dividido com a tecnologia e a coragem dos organizadores.

No fim, as noites de 15 e 17 de outubro de 1993 foram mágicas. O Morumbi lotado vibrou com sucessos como Billie Jean e Black or White. O episódio do roubo ficou como uma nota curiosa na história, mas também como símbolo de que, mesmo diante da violência urbana, a inovação e a preparação podem — e devem — fazer a diferença. Afinal, quando se trata de Michael Jackson, nada menos que extraordinário é aceitável.

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