‘Ben’: A música que deu voz ao garoto solitário chamado Michael Jackson
Nos corredores silenciosos de um cinema qualquer, um adolescente franzino, de chapéu e óculos escuros, desliza despercebido até a última fileira. Senta-se em silêncio, sozinho, o coração acelerado, aguardando ansiosamente o momento em que a sala escurece por completo. Quando os créditos sobem, lá está: sua voz ecoando pelos alto-falantes, e seu nome brilhando na tela. Era 1972, e Michael Jackson, com apenas 14 anos, testemunhava seu sonho se fundir à realidade — pela primeira vez, como artista solo, no topo da Billboard. A canção? Uma delicada e inusitada ode a um rato chamado Ben.
“Ben”, o primeiro grande sucesso solo de Michael, foi a trilha sonora da continuação de um filme de terror obscuro sobre amizade entre um menino solitário e um rato. Um enredo improvável para uma balada tão terna, tão sincera. E, no entanto, fazia sentido. O próprio Michael se viu espelhado naquele garoto da tela — isolado, tímido, incompreendido. Enquanto o mundo o conhecia como o astro mirim dos Jackson 5, por dentro ele se sentia invisível, desejando apenas alguém que o entendesse.
Michael já tinha uma ligação especial com ratos. Criado em um ambiente rígido e sufocante, ele encontrou refúgio em animais — criaturas que o olhavam sem julgamento, que o amavam em silêncio. Quando interpretou “Ben”, não era apenas uma atuação: era uma confissão. A voz infantil e doce carregava um peso emocional surpreendente, que tocou o coração de milhões. A música escalou rapidamente as paradas, até alcançar o lugar mais alto — e ali ficou, marcando o início de uma jornada solo lendária.
O sucesso não se limitou às paradas. “Ben” foi indicada ao Oscar de Melhor Canção Original, e mesmo após a fama monumental que viria nos anos seguintes, Michael sempre se lembraria de “Ben” com carinho.
A canção era, para ele, mais que uma trilha sonora. Era um símbolo de conexão, de empatia, de aceitação — temas que permeariam toda sua obra futura. Foi com um rato que ele descobriu que a música podia ser abrigo, ponte e voz ao mesmo tempo. A música que parecia estranha ao mundo, fazia todo sentido para quem se sentia estranho no mundo.