Michael Jackson e a sexta-feira em família

Michael Jackson e a sexta-feira em família

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Era 1986. Nos bastidores de um dos álbuns mais icônicos da música pop, algo extraordinário acontecia longe dos microfones e holofotes. Enquanto Michael Jackson trabalhava com Bruce Swedien e Quincy Jones nas gravações do disco Bad, um ritual silencioso e afetivo começava a ganhar forma. Não envolvia notas musicais, mas temperos, risos e laços humanos: a comida.

Quincy Jones já dava o tom com sofisticação. Seu chef pessoal, Jean-Luke, aparecia com sanduíches de frango artesanais — recheados com maionese feita à mão e jalapeños cortados em finíssimas fatias. Mas Michael tinha suas próprias referências e raízes. Entravam em cena Catherine e Laura, duas cozinheiras de confiança da família, que começaram a preparar suas refeições em Havenhurst logo após o sucesso de Thriller.

Era comida simples. Com alma. Com memória. Aquela que conecta a infância à idade adulta, o passado ao presente. Durante as sessões do álbum Bad, Michael quis mais do que apenas alimentar o corpo: ele queria criar um espaço de união, um ritual de afeto. Propôs que, nas tardes de sexta-feira, todos parassem o trabalho para um jantar em família.

Assim nasceram os famosos Jantares de Sexta com a Família. Catherine e Laura se tornaram as chefs de um banquete que, mais do que alimentar, celebrava a vida e a amizade. Na cozinha improvisada do estúdio, nascia uma tradição que se estenderia até o álbum Dangerous, com pratos típicos e histórias trocadas à mesa.

 

Cozinhas constroem lares. E, naquele momento, construíam também uma lenda. A comida era um elo invisível que unia artistas, técnicos, esposas, filhos e amigos. A câmera de segurança do estúdio virou um ícone emocional: todos se animavam quando viam o carro de Catherine chegando. Isso significava uma coisa só — o jantar estava prestes a começar.

E que jantares eram esses! Purê de batatas, frango frito, torta de batata doce, verduras cozidas com perfeição e, claro, o lendário pudim de banana da Catherine. Não era sobre sofisticação — era sobre pertencimento. Sobre sentir-se em casa, mesmo no meio da criação de um fenômeno musical mundial.

Frank Dileo aparecia “misteriosamente” às sextas. Miko Brando e Bill Bray raramente faltavam. Era um momento de pausa, de humanidade, em meio à máquina frenética do show business. O estúdio se tornava um lar, e o lar, um lugar sagrado.

Como disse Michael certa vez, “a comida é sobre países”. Mas talvez fosse mais do que isso: era sobre pessoas. Sobre identidade. Sobre como, às vezes, um simples prato pode dizer mais do que qualquer letra de música. E naquele estúdio, enquanto nascia Bad, algo ainda maior florescia — a memória viva de um artista que sabia que o sabor da vida não está apenas no palco, mas na partilha.


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