Em junho de 1995, Londres parou diante de uma visão surreal: uma estátua gigante de Michael Jackson descendo o rio Tâmisa. Com 10 metros de altura e feita de fibra de vidro, a escultura não era única. Outras nove foram espalhadas pelo mundo, como parte de uma das campanhas promocionais mais ousadas da história da música: o lançamento do álbum HIStory: Past, Present and Future – Book I.
Como nasceu um ícone de fibra de vidro
A criação dessas estátuas começou com um molde de argila nos Estados Unidos, produzido pela escultora Diana Walczak, que havia colaborado com Jackson no design da capa do álbum. A imagem forte e militarizada do astro se tornaria símbolo visual da nova era que ele queria marcar. Na Inglaterra, o artista Stephen Pyle foi encarregado de produzir as réplicas gigantes. Em apenas quatro meses, ele e sua equipe montaram dez colossos em fibra de vidro.

As esculturas foram pintadas para parecerem de pedra, mas não seguiam exatamente o protótipo original de Walczak. “Viramos uma espécie de fábrica eficiente de monólitos do Michael Jackson”, relembra Pyle, com orgulho. Com os recursos da Sony e o entusiasmo da equipe em Elstree Studios, os gigantes estavam prontos para cruzar continentes junto com o cantor.

De Londres para o mundo
A primeira aparição pública foi cinematográfica: uma balsa navegou o Tâmisa carregando o rei do pop em forma de estátua. Jackson não queria apenas lançar um disco. Queria fazer história, literalmente. A campanha refletia sua ambição e também seu desejo de reafirmar sua relevância artística após anos de escândalos e controvérsias.
A estátua que virou santuário
Na pequena cidade de Best, na Holanda, uma das estátuas virou atração permanente no estacionamento de um McDonald’s. O proprietário, Peter Van Gelder, comprou a peça em um leilão beneficente em 1996. “Ela chamava mais atenção que o próprio letreiro do restaurante”, conta ele. Durante anos, fãs se reuniam ali em datas especiais, transformando o local em um altar informal ao cantor.

Quando a pressão vence a memória
Em 2019, após a exibição do documentário da HBO, que trouxe novas acusações de abuso sexual infantil, a matriz americana do McDonald’s pressionou para a remoção da estátua. Ela foi escondida em um galpão e, até hoje, aguarda um destino. Peter deseja doá-la a um fã-clube, mas o tamanho da peça e questões burocráticas têm dificultado a transferência.

A estátua no meio da balada
Na Áustria, outro destino inusitado: o pátio de um clube noturno chamado Baby’O. O proprietário, Franz Josef Zika, arrematou a estátua em 1998, durante um leilão de caridade. “Meu tio achou que eu estava louco”, relembra Franz, entre risos. A escultura se tornou parte da decoração do espaço, cercada por bares e festas temáticas.
Fim da festa, mas não da história
O clube austríaco encerrou suas atividades recentemente, e Franz agora busca vender a peça. Ele pede 25 mil euros, mas diz que o interesse diminuiu com o tempo e que alguns potenciais compradores desistiram por falta de recursos. Com bom humor, ele afirma: “Se ninguém comprar, talvez eu envie a estátua para Marte com ajuda do Elon Musk!”
O rei do pop na feira suíça
Em Lausanne, na Suíça, a estátua fazia parte da tradicional feira Luna Park. Adquirida em 2008, ela foi exibida por vários anos entre luzes e brinquedos coloridos. Seu uniforme ganhou detalhes dourados, reforçando o ar majestoso do personagem. No entanto, nos últimos tempos, ela não tem sido mais exibida. Os organizadores não deram explicações, apenas garantem: não está à venda.

Uma relíquia em miniatura
Na África do Sul, Jackson levou uma das estátuas durante sua turnê do álbum HIStory. Ela acabou sendo instalada no parque Santarama Miniland, em Joanesburgo, famoso por suas réplicas em miniatura de pontos turísticos do país. A ironia não passou despercebida: uma estátua gigante em um parque de miniaturas.
Hoje, o local está abandonado, mas a imagem do cantor ainda pode ser vista em imagens de satélite.

Uma versão restaurada na Itália
Em Milão, a estátua foi restaurada em 2019, com direito a óculos escuros novos e um flash mob.
O parque Europark Idroscalo anunciou que a peça era um tributo aos fãs que continuavam fiéis ao cantor.

Guardiões de memória
Para muitos fãs, essas estátuas são símbolos de uma era e de uma arte que marcou gerações. Para outros, representam um desconforto histórico que não pode ser ignorado. A verdade é que, mesmo 16 anos após sua passagem, Michael Jackson continua presente – seja nas playlists ou nos silos onde descansam suas imagens gigantes.
O peso de um legado
Como lidar com uma estátua que pesa toneladas e uma história ainda mais pesada? Para alguns, escondê-las parece prudente. Para outros, preservá-las é uma forma de honrar a cultura pop. O que é certo é que poucos artistas geraram estátuas em vida – e menos ainda deixaram um impacto tão visual quanto o Rei do Pop.
por Danny Fullbrook, BBC News