Poucos artistas na história da música trataram o estúdio de gravação como um templo sagrado. Michael Jackson era um deles. Para ele, a qualidade vinha antes da quantidade, e esse princípio se tornaria sua marca registrada. Cada álbum era uma construção meticulosa, um mosaico de sons e emoções lapidados até o limite da perfeição.
Jackson não lançava discos para “preencher o mercado”. Ele criava experiências sonoras que deveriam atravessar gerações. Por isso, passava anos trabalhando em novas canções, explorando possibilidades, testando timbres, reinventando batidas. Um álbum de Michael Jackson não era apenas música. Era um evento global cuidadosamente preparado.
Durante os anos 80 e 90, quando a indústria pressionava por lançamentos anuais, Michael seguia outro caminho. Enquanto outros artistas gravavam em poucos meses, ele passava dois, às vezes três anos em estúdio, até encontrar o repertório que julgava digno de ser apresentado ao público. Essa paciência e obstinação resultaram em clássicos como Thriller, Bad, Dangerous e HIStory, discos que mudaram o rumo da música pop.
A cada lançamento, Michael criava um universo. O álbum HIStory: Past, Present and Future, Book I foi um deles, um projeto ambicioso que misturava retrospectiva e inéditas, e que se tornaria um manifesto pessoal e artístico. Mas quando a Sony Music sugeriu um segundo volume, o chamado Book II, previsto para 1997, Jackson se recusou categoricamente. Para ele, HIStory era uma obra completa, indivisível. . “É único, como todos os meus álbuns.”, teria dito
A indústria não entendeu. Para as gravadoras, o sucesso deveria ser multiplicado. Para Michael, o sucesso devia ser respeitado. Mesmo assim, em meio à pressão, nasceu Blood On The Dance Floor: HIStory in the Mix, um disco que unia algumas faixas inéditas e remixes lançados contra sua vontade. Michael via os remixes como repetições vazias, uma forma de diluir a essência do original.
Ele acreditava que seus fãs mereciam autenticidade. Respeitar o público era inegociável. Por isso, evitava relançamentos desnecessários, coletâneas oportunistas e variações de discos. Sua forma de “driblar” a indústria era simples: preencher o limite máximo de um álbum. Se o CD comportava 78 minutos de música, ele entregava 78 minutos de criatividade. Foi o que fez com Invincible, lançado em 2001, com 16 faixas.
Esse perfeccionismo não era vaidade, mas convicção. Michael sabia que seu nome carregava responsabilidade. Cada detalhe, cada acorde, cada respiração gravada em estúdio era parte de um legado que deveria sobreviver à passagem do tempo. Ele não queria ser lembrado por quanto vendia, e sim pelo que entregava.
Com o passar dos anos, a indústria da música se transformou. Hoje, a lógica da velocidade domina. Singles semanais, álbuns descartáveis e fórmulas repetitivas substituíram o cuidado artesanal que Michael Jackson representava. Sua resistência à pressa comercial pode ter sido mal compreendida em sua época, mas hoje soa profética.
Michael Jackson foi mais que o “Rei do Pop”. Foi o último grande arquiteto da música de massa, um artista que acreditava que a arte não devia se adaptar ao mercado, o mercado é que devia se curvar diante da arte. Sua teimosia, vista por muitos como obstáculo, foi, na verdade, o segredo por trás de sua eternidade.




