Em 13 de julho de 1985, o mundo se voltou para o Live Aid, um megaevento beneficente que reuniu grandes nomes da música em Londres e na Filadélfia para arrecadar fundos contra a fome na Etiópia. Entre tantas estrelas, uma ausência chamou atenção: Michael Jackson, então o maior artista do planeta, não se apresentou. Longe de ser desinteresse, sua ausência tinha explicações estratégicas. Além de já ter dado uma contribuição imensa meses antes com We Are the World, Michael estava envolvido em um projeto ambicioso que uniria sua música ao universo da Disney: o curta 3D Captain EO.
O interesse da Disney por Michael vinha no embalo do sucesso de Thriller e do fascínio declarado do cantor pelo legado de Walt Disney. Em 1984, o novo CEO Michael Eisner e o executivo Frank Wells viram a oportunidade de associar a maior estrela pop do mundo à renovação criativa dos parques. Michael aceitou com entusiasmo, orientado por seu amigo David Geffen, e pediu para trabalhar com Steven Spielberg ou George Lucas. Spielberg recusou por compromissos, mas Lucas, criador de Star Wars, entrou a bordo como produtor executivo. A direção ficou com Francis Ford Coppola, indicado pelo próprio Lucas.

A concepção de Captain EO
Rick Rothschild, da Walt Disney Imagineering, elaborou conceitos para o filme. A ideia escolhida mostrava Michael como um capitão espacial que precisava derrotar uma rainha opressora (interpretada por Anjelica Huston) e libertar um planeta mergulhado em trevas. O enredo futurista foi visto como a forma ideal de unir os mundos da Disney, da ficção científica e do pop. O título Captain EO foi definido em abril de 1985, inspirado em Eos, a deusa grega do amanhecer.
As filmagens começaram em 15 de julho de 1985 — apenas dois dias após o Live Aid. Na prática, Michael já estava comprometido com a Disney, Lucas e Coppola, o que explica sua ausência no concerto beneficente. Ao mesmo tempo, sua contribuição humanitária já havia se consolidado com We Are the World, responsável por arrecadar milhões para a mesma causa do Live Aid.
Um marco tecnológico e artístico
Com orçamento que superou US$ 25 milhões para apenas 17 minutos de filme, Captain EO marcou a história do entretenimento. Foi o primeiro filme mixado em som surround 5.1 e utilizou câmeras 3D de última geração. A coreografia ficou a cargo de Jeffrey Hornaday (Flashdance), e a trilha foi assinada por James Horner. Michael apresentou duas músicas inéditas: We Are Here to Change the World e Another Part of Me, esta última incorporada depois ao álbum Bad.

A estreia ocorreu em setembro de 1986, no Epcot e na Disneylândia, tornando-se uma atração de enorme sucesso. O curta nunca foi lançado em home video por questões legais e contratuais, mas retornou aos parques entre 2010 e 2015 após a morte de Michael, em resposta ao clamor popular.
Ausência estratégica, não frivolidade
A decisão de Michael Jackson de não participar do Live Aid não pode ser reduzida a um gesto fútil. Ao contrário: já havia dado sua contribuição humanitária com We Are the World e escolheu dedicar-se a um projeto inovador que misturava música, cinema e tecnologia. Sua ausência naquele palco histórico abriu caminho para um outro marco cultural: a união do Rei do Pop com o universo Disney em Captain EO.




