Michael, Michael, eles não ligam pra gente!”. Assim começa um dos mais clássicos videoclipes de Michael Jackson. They Don’t Care About Us, gravado no Brasil, em 1996, teve participação especial do Olodum e levou o Pelourinho para os quatros cantos do mundo.

Gravado na favela de Santa Marta, no Rio de Janeiro, e no Pelourinho, a maioria das cenas do vídeo mostraram mesmo a capital baiana. A gente até pode dizer que foi em Salvador que Michael Jackson caiu, mas levantou a poeira e deu a volta por cima. Brincadeiras à parte, naquele dia em fevereiro de 1996, o Pelourinho foi todo fechado. Só passava por lá quem estava hospedado na área ou quem era morador, comprovando com documentos.

Quem não se orgulha de ter um amigo do amigo que acompanhou as gravações e contou algumas curiosidades? Uma delas, por exemplo, é que no alto do Pelô, imensos tecidos brancos cobriam todos os locais por onde passaria o astro, para filtrar os raios solares e preservar a pele já muito sensível do cantor.

Vestido com uma icônica camiseta do Olodum, Michael Jackson não parou. Uma energia sem fim, de tirar o fôlego. Ao redor, fãs enlouquecidos gritavam desesperados. Entre o preto, vermelho, amarelo e verde dos tambores, das roupas, dos enfeites no cabelo, Salvador aparece mais suingada do que nunca sob a voz de um dos fenômenos pop de todos os tempos. O Olodum ainda deu um tom diferente ao ritmo, entre o samba-reggae, o axé e o hip hop, que destacou a música de forma bem particular do resto da obra do artista.

A música mais politizada de Michael Jackson virou um dos hinos da injustiça social, ganhou polêmica na época e foi severamente criticada pela imprensa internacional. Chegou, inclusive, a ganhar outro clipe. Mais sério, mais violento, que se passa numa prisão norte-americana. Acabou sendo censurado por lá. Por aqui, só alegria. Tem criança, tem gritaria, tem dança, tem tambores do Olodum, tem até fã quebrando a cerca de segurança e derrubando Michael Jackson nos paralelepípedos centenários do Pelô. Como não amar?

Depois desse clipe, a vida de muitas pessoas mudaram profundamente. Levantar o tambor sobre a cabeça, por exemplo, virou a marca registrada do percussionista Bira Jackson. O apelido que ficou para sempre também surgiu depois daquele dia. O menino que dançou com Michael, passou a ser reconhecido por… adivinha? Ser o menino que dançou com Michael. O nome dele é Jason Wilde de Jesus Queiroz e na época tinha apenas 11 anos.

O próprio Pelourinho nunca mais foi o mesmo. A loja Casa Número 8, onde o Rei do Pop a cantou na sacada, virou a Casa do Michael. Seu Carlos, que comanda o estabelecimento, lucra até hoje com souvenirs daquela gravação. Da famosa camiseta do Olodum à fotos reveladas, da época em que as máquinas ainda eram analógicas. Depois de comprar alguma lembrancinha na loja, também é possível subir na mesma varanda e até tirar umas fotos.

Se no vídeo tudo parece lindo, alegre e colorido, as gravações foram um sufoco. Especialmente no Rio, já que as autoridades não queriam permitir que a imagem da cidade ficasse associada à favela. Por aqui, a polícia, de farda azul marinho na época, foi bem provocada pelo cantor, que cantou no pé do ouvido e fez careta para os fardados.

Nenhum astro foi capaz de realizar uma intervenção de tal magnitude e reconhecimento no cenário brasileiro. Em 2009, quando Michael se foi, uma estátua foi inaugurada em sua homenagem no morro Dona Marta. O clipe é o segundo mais visto de Michael no YouTube, atrás apenas de Billie Jean, que já acumula mais de 1,5 bilhão de visualizações. 

por Carol Andrade

2 Comments

  1. Os brasileiros amam Michael! Esse clipe é nossa aliança de casamento eterno com ele. Uma ligação espiritual de almas! Através do nosso amor, certamente Michael Jackson tornou-se um pouco brasileiro!

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