O playback, uma técnica moderna tão celebrada quanto criticada, tem sido um ponto de debate constante no cenário musical contemporâneo. Sua relação complexa com os artistas atuais é um tema intrigante, evidenciando sua dualidade como aliado e antagonista das performances ao vivo.

Tomando como estudo de caso o lendário Michael Jackson, é possível compreender melhor os contextos nos quais o playback é empregado e as razões por trás dessas escolhas.

Antes de adentrarmos nas nuances do uso do playback, é essencial reconhecer que existem outras ferramentas técnicas à disposição dos cantores. Entre elas, destaca-se um programa de computador capaz de ajustar automaticamente as notas vocais de acordo com parâmetros pré-definidos.

Como funciona esse processo? Quando um cantor executa sua performance vocal, independentemente de sua precisão, o som é processado pelo computador antes de ser amplificado pelas mesas de mixagem de palco e de P.A. (amplificação pública). O software então corrige quaisquer discrepâncias de afinação, criando a ilusão de uma execução vocal perfeita, mesmo nas situações mais desafiadoras.

No caso específico de Michael Jackson, observa-se uma abordagem diferenciada. O ícone da música pop optava por empregar o playback em determinadas circunstâncias, especialmente em músicas que exigiam um alcance vocal mais amplo ou que foram originalmente gravadas em fases diferentes de sua carreira.

Além disso, a intensidade de suas performances coreografadas adicionava uma camada de complexidade à equação. Os movimentos característicos de Jackson, frequentemente descritos como “robóticos”, demandavam uma grande rigidez abdominal, o que poderia comprometer a qualidade de sua voz durante a execução ao vivo.

Nesse contexto, o playback se revelava não apenas como uma conveniência técnica, mas como uma necessidade para preservar a integridade artística de Jackson. Permitia-lhe manter o padrão de excelência pelo qual era conhecido, mesmo em condições desafiadoras de apresentação.

No entanto, é importante ressaltar que o uso do playback não era uma escolha unânime. Havia momentos em que Jackson alternava entre trechos cantados ao vivo e partes em playback, buscando um equilíbrio entre autenticidade e performance visual.

Alguns relatos sugerem até mesmo que a timidez e o perfeccionismo de Jackson influenciavam suas decisões em relação ao uso do playback. Para o artista, cujas performances eram escrutinadas com minúcia pelos fãs e pela mídia, a pressão para alcançar a perfeição era constante, tornando o playback uma ferramenta estratégica para minimizar o risco de falhas.

Em última análise, a relação entre Michael Jackson e o playback encapsula os dilemas enfrentados pelos artistas contemporâneos. Num cenário onde a exigência de perfeição coexiste com a busca pela autenticidade, o uso do playback se apresenta como uma solução pragmática e no caso de Jackson, essa abordagem tornou-se  apenas uma escolha técnica.

PLAYBACK | EM QUAIS TURNÊS?

Michael Jackson começou a usar playbacks em 1988 durante a 2º fase da Bad World Tour, a partir da fase europeia que começou em 23 de Maio de 1988, na cidade de Roma.

Os playbacks eram pequenas exceções nessa época. Michael utilizava em determinadas músicas e momentos, pois muitas músicas já exigiam muita dança para que ele sincronizasse com fôlego, tom e afinação (como foi explicado no outro post sobre playbacks).

Antes disso durante a fase americana de 1988, a Bad Tour foi apresentada inteiramente ao vivo, assim como a primeira parte da turnê em 1987, durante os shows do Japão e Oceania.

Segue a ordem cronológica dos playbacks:

BAD TOUR 1988 (EUROPA ) e 1989 (USA)

Smooth Criminal (até a segunda parte da música, após o ultimo refrão é ao vivo).
Bad (até a terceira parte da música, a partir da frase “you know I’m smooth…” é ao vivo).
The Way You Make Me Feel (a partir de “give it to me, give me some time…” é ao vivo).
Man In The Mirror (apenas o final é ao vivo).

DANGEROUS TOUR 1992/1993

Jam (inteira).
Smooth Criminal (inteira).
Thriller (inteira).
Will You Be There (inteira com excessão da “oração” no final).
Bad (inteira).
The Way You Make Me Feel (inteira).
Dangerous (inteira).
Black Or White (inteira).
Heal The World (inteira).
Man In The Mirror (com exceção do final).

HISTORY TOUR 1996/1997

– Com exceção de Wanna Be Startin’ Somethin e Jackson 5 Medley, todas as outras músicas foram playback.

É importante destacar que, na época em que Michael Jackson enfrentava um inchaço nas cordas vocais, ele se viu confrontado com um desafio adicional em suas performances ao vivo. Esse obstáculo físico limitou sua capacidade de cantar ao vivo  levando-o a recorrer mais frequentemente ao uso do playback.

PS: No documentário Bad Tour Around The World, Michael revela que Thriller era uma de suas canções mais difíceis para ser cantada, interpretada e dançada ao vivo, tanto que só foi apresentada ao vivo na Bad Tour.

One Comment

  1. Não sou de concordar com playback em apresentações ao vivo, pela simples razão da imersão e experiência esperada pelo espectador ser totalmente “real”, diferentemente de assistir o artista em vídeos.
    Mas no caso de Jackson, existe uma grande exceção. Ele começou sua vida artística muito cedo e continuou utilizando seu potente vocal por muitas décadas além do “normal” para um cantor. Michael não precisava provar para ninguém do belo vocal que exprimia em todos seus trabalhos, e além do mais o que fazia de dele o artista que é, não era apenas o vocal, mas todo um conjunto performático.

    Lembrando que o playback era utilizado mais em sua voz, tendo a performance instrumental em quase sua totalidade sendo executada ao vivo.

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