Quando Elton John lançou sua biografia, “Eu“, o mundo parou para ouvir os relatos de uma das maiores estrelas da música. Mas, no meio de tantas histórias, uma declaração se destacou pela sua crueza: Michael Jackson. Segundo Elton, era uma pessoa “perturbadora”, alguém que vivia em um mundo de fantasias, isolado da realidade.
Mas até que ponto essas palavras refletem a verdade? E, mais importante, quem realmente era o perturbado nessa narrativa?
A história que Elton John conta em seu livro descreve um encontro constrangedor com Michael Jackson. Ele pinta um quadro de excentricidade: Michael, frágil, maquiado de maneira estranha, recusando-se a interagir com os adultos à mesa e preferindo se isolar jogando videogame com o filho da governanta.
À primeira vista, parece uma descrição de alguém desconectado da realidade. Mas, ao analisarmos o contexto, surgem dúvidas inevitáveis: será que o problema estava realmente em Michael, ou em como Elton escolheu enxergá-lo?
Michael Jackson viveu uma vida marcada pela pressão, dor e incompreensão. Suas batalhas com o vitiligo, uma condição médica que o obrigava a evitar o sol, e as constantes cirurgias para reparar queimaduras na cabeça, o tornaram dependente de medicamentos. Medicamentos que, com o tempo, transformaram-se em vício. No entanto, enquanto Elton John culpa Michael por seu estado mental, ele convenientemente esquece de mencionar sua própria luta com as drogas, admitindo que, após anos de abuso de cocaína, sua alma estava “negra como um pedaço de bife carbonizado”.
Essa hipocrisia de Elton levanta uma questão perturbadora: por que a excentricidade de Michael era sempre vista sob uma lente de desprezo, enquanto as próprias falhas de Elton eram tratadas com indulgência?
Michael era chamado de “bizarro” pela imprensa por suas peculiaridades, mas ninguém nunca questionou as atitudes escandalosas de Elton, como aparecer em festas com fantasias excêntricas, e, em suas próprias palavras, explodindo de raiva por motivos fúteis.
O relato de Elton John sobre Michael Jackson pode ser mais revelador sobre o próprio Elton do que sobre Michael.
Quando ele acusa Michael de não conseguir lidar com a companhia de adultos, será que ele está, na verdade, projetando suas próprias dificuldades de se conectar com outros de maneira genuína? A verdade é que Michael Jackson sempre foi um homem em busca de simplicidade, de autenticidade, algo que, no mundo hedonista de Hollywood, era raridade.
E talvez seja aí que esteja o verdadeiro desconforto de Elton John e de tantos outros que, ao longo dos anos, criticaram Michael. Ele não se encaixava no molde, não seguia o fluxo de excessos que caracterizava o meio artístico. Michael preferia a companhia de crianças, não por motivos sinistros, mas porque via nelas a pureza que faltava nos adultos com quem convivia. O que Elton John não mencionou é que Michael Jackson também tinha amizades sólidas com adultos, como Elizabeth Taylor, uma das poucas pessoas em quem confiava plenamente.
A mídia, sempre ávida por um escândalo, aproveitou as palavras de Elton para perpetuar o mito de Michael Jackson como uma figura estranha, alguém incapaz de viver no mundo real. Mas o que a imprensa e muitos de seus “amigos” nunca entenderam é que o problema não estava em Michael, mas no mundo que ele habitava. Um mundo onde a fama, o dinheiro e o poder corrompiam tudo, onde amizades eram transações e onde a verdade era moldada pelos interesses de poucos.
Ao final, Michael Jackson não era o perturbado. Ele era alguém que, cercado por um ambiente hostil, lutou para manter sua essência, sua inocência, e sua visão de um mundo melhor. Elton John, por outro lado, parece ter se rendido a esse mundo, abraçando seus excessos e justificando seus comportamentos com uma falsa narrativa de “criatividade artística”.
Talvez, então, a verdadeira pergunta seja: quem realmente estava desconectado da realidade?
Michael Jackson, que buscava refúgio em um mundo onde a pureza e a verdade ainda existiam, ou Elton John, que, cercado por excessos, preferiu criticar do que entender?
A resposta, como sempre, depende de onde você escolhe olhar.
Perfeito!