Por anos, a mídia global se deleitou com o apelido “Wacko Jacko”, uma caricatura sensacionalista que serviu para obscurecer um dos maiores fenômenos culturais e empresariais da história.

Mas, quando exatamente Michael Jackson deixou de ser o rei inquestionável da música e passou a ser o alvo predileto de escárnio?

Como ele foi de astro supremo a uma figura constantemente desacreditada e rotulada de “louco”?

A resposta, como muitas das narrativas mais complexas da história, está nas entrelinhas.

Quando pensamos em Michael Jackson, muitas imagens vêm à mente: o gênio que revolucionou a música com “Thriller“, o dançarino incomparável com o icônico moonwalk, ou o artista envolto em escândalos.

Mas para além dos holofotes e manchetes, havia um lado de Michael que a mídia raramente explorava — o homem de negócios astuto, visionário e corajoso, que ousou desafiar os pilares da indústria musical.

A narrativa do “louco” começou, curiosamente, não nos anos de glória de Thriller, mas quando Michael começou a fazer movimentos empresariais que incomodaram a elite do entretenimento.

Tudo mudou quando Michael se aventurou além da música e entrou no mundo dos negócios. Ele comprou o catálogo dos Beatles, algo impensável na época. O próprio Paul McCartney admitiu que não conseguiu superar o poder de negociação de Jackson. Para muitos, esse foi o momento em que as coisas começaram a desmoronar, não porque ele estava “louco”, mas porque ousou ser maior que o sistema.

Casar-se com Lisa Marie Presley, a filha de Elvis, também foi visto como uma afronta direta ao legado cultural que os Estados Unidos veneravam. Michael não estava apenas criando uma carreira; ele estava reescrevendo a história da música e da cultura pop.

Jackson havia rompido dois ícones sagrados: os Beatles e Elvis Presley. Se isso não fosse suficiente para sacudir o mundo, ele ainda formou uma das parcerias mais poderosas da indústria fonográfica ao unir-se à Sony, criando a Sony/ATV Music Publishing. De repente, Michael tinha nas mãos os direitos de publicação de mais de 100.000 músicas, incluindo canções de Bob Dylan, Elvis, e até de Tupac e Biggie.

Isso não era apenas sucesso; isso era poder.

Um poder que poucos, especialmente um homem negro, haviam conseguido alcançar na indústria musical.

O problema era que, para a sociedade, era aceitável que Michael Jackson fosse o Rei do Pop, contanto que ele ficasse dentro dos limites da música e do entretenimento. Mas ao ultrapassar esses limites e assumir o controle de um dos maiores catálogos musicais do mundo, ele se tornou uma ameaça.

O que aconteceu em seguida foi previsível: para derrubar alguém desse nível de poder, você ataca aquilo que ele mais ama. E foi exatamente isso que fizeram com Michael, manipulando a opinião pública e usando seus escândalos pessoais como armas.

A batalha que Jackson travou não foi apenas contra acusações de abuso ou escândalos pessoais, mas contra um sistema que nunca havia lidado com alguém como ele. E ele não estava sozinho. Artistas como Prince e George Michael também enfrentaram a fúria de uma indústria que não queria ceder poder.

A diferença é que Jackson lutou com uma intensidade que poucos poderiam imaginar. Sua absolvição em 2005, apesar de ter sido amplamente ignorada pela mídia, foi uma das maiores vitórias da sua vida. Mas ele não celebrou. Ele foi para casa, deixou os Estados Unidos e se afastou da esfera pública.

Mesmo fora dos holofotes, Michael continuou a gerar receitas extraordinárias. A cada respiração, seu catálogo rendia milhões, e a Sony sabia disso. Era mais fácil deixar que a mídia alimentasse a ideia de que ele estava falido do que admitir o quão poderoso ele realmente era. Neverland ainda era sua. Suas propriedades ainda eram suas. E ele ainda possuía os direitos das músicas dos Beatles. Mas esse era o segredo bem guardado que a indústria preferia que o público não soubesse.

Se o sistema falhou em derrubar Jackson, a mídia continuou tentando manter sua imagem distorcida. A ideia de um artista negro, sem educação formal, que não apenas dominou a música, mas também a indústria, era algo que poucos podiam aceitar. E mesmo após sua morte, Michael continua sendo uma figura polarizadora, mas, ao final, ele será lembrado não apenas por Thriller ou pelos escândalos que o cercaram.

Ele será lembrado como o homem que enfrentou o sistema e venceu.

Para aqueles que ainda duvidam, uma coisa é certa: Michael Jackson mudou o jogo para sempre. Ele viveu para contar a história, e sua autobiografia, se um dia for escrita, será uma das mais intrigantes da história. Não pelo que ele passou como artista, mas pelo que ele conquistou como um visionário que desafiou e superou a indústria mais poderosa do mundo.

Na batalha final, Michael Jackson sairá não como um alegado criminoso, mas como o maior estrategista musical de todos os tempos.

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