Se existe um mito que insiste em pairar sobre a carreira de Michael Jackson, é a ideia de que ele “quis ser branco”. Um boato que, apesar de desmentido inúmeras vezes, parece resistir ao tempo, alimentado por preconceitos enraizados e pela desinformação.
Mas, como toda boa história sensacionalista, ela se sustenta mais no apelo popular do que na verdade. E Michael? Ele apenas seguiu em frente, como sempre fazia.
Pensemos no absurdo: alguém acorda pela manhã e decide “virar branco” como se trocasse de roupa. A suposição de que Michael, que tantas vezes declarou orgulho por sua origem afro-americana, desejasse “renegar sua raça” não apenas desafia a lógica, mas ignora completamente o contexto de sua vida e de sua condição médica.
O vitiligo, uma doença autoimune que provoca a perda progressiva da pigmentação da pele, foi confirmado pelo próprio artista e documentado em seu histórico médico. No entanto, a resistência em aceitar esse fato revela mais sobre o preconceito do público do que sobre as intenções de Michael.
Os que insistem em descreditá-lo recorrem a piadas de mau gosto e especulações sem fundamento. “Ah, ele tomou banho com cândida” ou “sabão em pó fez o serviço”. Piadas fáceis para disfarçar a falta de conhecimento ou, pior, para encobrir o racismo disfarçado. Porque, convenhamos, o incômodo não está no vitiligo em si, mas na necessidade de Michael de cobrir as manchas para manter uma aparência uniforme. Não era ele que tinha vergonha da própria pele; era o mundo que não sabia lidar com sua mudança.
E, por falar em mudança, vamos lembrar o que Michael sempre representou: um artista que transcendeu barreiras, não porque quis “esquecer” quem era, mas porque desafiou o sistema que insistia em limitá-lo. Ainda jovem, ele conquistou o mundo com sua voz, talento e carisma – tudo isso antes de qualquer transformação em sua pele. Ele não se tornou ícone porque era negro ou branco, mas porque era Michael Jackson, o maior artista de todos os tempos.
Quando analisamos a trajetória do Rei do Pop, fica claro que sua luta nunca foi contra sua cor, mas contra um mundo que tentava enquadrá-lo em categorias simplistas. E ironicamente, ao tentar derrubá-lo com acusações absurdas, as pessoas apenas expõem seus próprios preconceitos. Porque, no fim das contas, o racismo não desaparece: ele se transforma. E, na história de Michael, ele se disfarçou de “preocupação” com sua identidade racial.
Michael era um café forte, servido numa xícara branca. Muitos julgavam o recipiente sem ao menos provar o conteúdo. Aqueles que se deram a oportunidade de conhecê-lo sabiam: o sabor era único, inesquecível, e sua essência permanecia a mesma – independente da cor da xícara.