Em 1996, Michael Jackson presenteou o mundo com Ghosts, uma obra única, mas que, para muitos, ficou escondida no tempo, longe da aclamação que ele tanto esperava.
Realizado com a ambição artística característica do Rei do Pop, o média-metragem é hoje visto como um marco subestimado, uma realização que alcança níveis impressionantes de narrativa, performance e efeitos visuais. No entanto, apesar do investimento de US$ 15 milhões e a parceria com Stephen King, Ghosts não encontrou o sucesso esperado em seu lançamento.
A questão que persiste é: por que uma obra de tal magnitude foi praticamente ignorada na época?
Para compreender o enigma por trás de Ghosts, é preciso voltar a 1993, quando o projeto ainda atendia pelo nome Is It Scary e estava sendo desenvolvido como uma colaboração com a franquia Família Addams. Jackson já havia gravado algumas cenas, mas viu seu mundo virar de cabeça para baixo quando o Caso Jordan Chandler emergiu, com acusações que despedaçaram sua imagem e levaram à suspensão do projeto. Acusado injustamente, ele foi obrigado a deixar os palcos da turnê Dangerous e a assistir, de longe, enquanto o projeto era arquivado, os sonhos diluídos sob o peso de uma polêmica fabricada que apenas anos depois seria revelada como uma fraude.
Três anos depois, ainda motivado pelo desejo de dar vida ao seu projeto, Michael decidiu ressuscitar It Is Scary (renomeando para Ghosts), desta vez com a colaboração do renomado escritor de terror Stephen King.
Ambos deram vida a uma obra que combinava dança, terror e um espetáculo de efeitos visuais. Com um roteiro sombrio e ousado, Jackson criou uma história na qual confronta o preconceito e desafia os críticos, em uma autocrítica sutil e poderosa. A produção era, acima de tudo, um espelho de suas lutas e uma maneira de se expor ao público sob outra perspectiva.
No entanto, mesmo com todo o esforço e a excelência do resultado, Ghosts enfrentou uma barreira imensa: a falta de apoio de sua própria gravadora. Executivos da Sony alegaram que lançar o curta nos cinemas e promover intensamente seu lançamento comprometeria a divulgação do álbum HIStory, lançado apenas meses antes e que já havia demandado investimentos expressivos.
Para a gravadora, Jackson estava em uma encruzilhada comercial que não permitia o luxo de promover outra produção com um orçamento tão alto.
Ainda assim, Ghosts encontrou reconhecimento. Em Cannes, foi aclamado e recebeu um prêmio especial, mas o caminho para o grande público foi cortado. O filme ficou no limbo, e Michael Jackson, decepcionado, viu seu trabalho ser praticamente esquecido pela falta de apoio. Para ele, Ghosts merecia um espaço próprio, tanto que, em 2009, planejava exibi-lo junto com Thriller em uma celebração inédita durante os shows da turnê This Is It. Infelizmente, com sua passagem, essa homenagem jamais aconteceu.
Hoje, Ghosts renasce nas redes e nas discussões de fãs e críticos que finalmente reconhecem o gênio por trás desse média-metragem. A obra de Michael Jackson, que mescla horror, dança e introspecção, é uma joia que o tempo vem revelando.
No fim das contas, Ghosts não foi um erro ou um fracasso; foi uma prova de que, mesmo incompreendido, o legado de Michael transcende o presente, aguardando seu verdadeiro reconhecimento na posteridade.