Realeza, Ritmos e Resistência: A Celebração da Identidade Negra na Música de Michael Jackson

Lançado em 1991, Dangerous é mais do que um álbum de Michael Jackson; é um manifesto cultural. Um tributo à história, à arte e à resiliência da comunidade negra, o projeto marca um ponto de virada na carreira do Rei do Pop.

Isso é evidente no videoclipe de Remember the Time, que reimagina o Egito Antigo com negros em papéis de realeza. Magic Johnson, Eddie Murphy e a modelo Iman são as estrelas, em contraste direto com os estereótipos de Hollywood. Sob a direção de John Singleton, o primeiro negro indicado ao Oscar de Melhor Direção, Jackson celebrou a elegância e o poder da herança africana com uma produção luxuosa e uma coreografia inovadora de Fatima Robinson.

Musicalmente, Dangerous foi a reinvenção que Michael Jackson buscava após sua parceria icônica com Quincy Jones. Teddy Riley, o gênio por trás do new jack swing, trouxe uma batida fresca e vibrante que combinava hip-hop, jazz e soul. Essa colaboração resultou em faixas como Jam e In the Closet, que soavam radicalmente diferentes de tudo que Jackson havia feito antes.

As seis primeiras músicas do álbum são um reflexo dessa fusão audaciosa, com a faixa-título explorando um som industrial e She Drives Me Wild transformando os ruídos urbanos em arte. Jackson não só explorava a música negra moderna, mas também ajudava a moldar seu futuro.

Apesar do sucesso comercial, Dangerous enfrentou críticas severas na época. O surgimento do grunge, representado pelo álbum Nevermind do Nirvana, marcou uma mudança na cultura pop. Para muitos críticos de rock, o sucesso de Nevermind sobre Dangerous nas paradas simbolizava o fim da hegemonia de Jackson. Ainda assim, Dangerous envelheceu com graça. Hoje, é reconhecido como uma obra-prima.

O impacto visual de Dangerous foi igualmente revolucionário. Além de Remember the Time, Jackson explorou a sensualidade em In the Closet com Naomi Campbell e celebrou a energia do basquete em Jam ao lado de Michael Jordan. Essa combinação de música e imagem ampliou a percepção da cultura negra como poderosa, sofisticada e multifacetada.

A influência continuou com Black or White e, anos depois, com They Don’t Care About Us, que se tornou um hino do movimento Black Lives Matter, dirigido por Spike Lee.

Críticos e comediantes frequentemente ironizavam a pele cada vez mais clara de Michael Jackson, sugerindo que ele renegava sua raça. No entanto, essa leitura superficial ignora a profundidade de sua obra.

Michael demonstrou que raça é mais do que pigmentação; é uma expressão de identidade, orgulho e história. Seu trabalho na década de 1990, especialmente em Dangerous, é um lembrete de que ele nunca se afastou de suas raízes. Pelo contrário, ele as celebrou em todas as oportunidades, muitas vezes de maneiras que o público demorou décadas para compreender.

Hoje, Dangerous é reconhecido como um marco não apenas na carreira do Rei da música Pop, mas na música pop e na cultura negra como um todo. É uma declaração de força e resistência, um lembrete de que Michael Jackson não apenas transcendeu barreiras raciais, mas também reescreveu a narrativa da cultura global com orgulho, talento e visão artística incomparável.

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