Antes de Ser Rei: Quando Michael Jackson quase desistiu dos palcos

Antes de Ser Rei: Quando Michael Jackson quase desistiu dos palcos

Sábado, 2 de maio de 1970. Filadélfia fervia em expectativa. Um grupo de adolescentes negros, recém-saídos dos estúdios da Motown, estava prestes a subir ao palco pela primeira vez em uma turnê nacional. Eram os Jackson 5. Na bagagem, apenas um álbum lançado poucos meses antes — Diana Ross Presents The Jackson 5 — e o estrondoso sucesso de I Want You Back, que já havia conquistado corações nos quatro cantos da América. Mas ninguém, nem mesmo os próprios irmãos, estava preparado para o que aconteceria naquele dia.

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A Motown, sempre visionária, decidiu promover o show de forma ousada: publicou no jornal local não apenas o horário do show, mas também a hora exata da chegada dos irmãos no Aeroporto Internacional da Filadélfia. A notícia se espalhou como pólvora. Em poucas horas, 3.500 fãs — em sua maioria adolescentes em êxtase — invadiram o terminal, transformando o local em um campo de batalha de gritos, lágrimas e histeria. A Jacksonmania havia acabado de nascer, e seu grito de estreia ecoou alto naquele saguão.

As câmeras da Motown registraram tudo. A chegada cinematográfica, o tumulto, o caos. As imagens, posteriormente exibidas no especial Going Back to Indiana em 1971, mostram cinco jovens atônitos, em choque com a magnitude do amor (e da loucura) que os envolvia. Michael, com apenas 11 anos, mal conseguia esconder o pânico nos olhos. “Estava morrendo de medo”, contou Jermaine Jackson anos depois. “Ele disse: ‘Não sei se posso fazer isso para sempre’. E eu respondi: ‘Talvez demore, mas não é para sempre’. Mal sabíamos…”

Até aquele momento, a realidade dos irmãos era composta por longas horas entre as paredes do estúdio da Motown. Vendas de discos, capas de revistas, reportagens… tudo parecia ainda uma abstração. Mas ali, no calor da multidão, eles entenderam. Subiram ao palco da Filadélfia e, com passos milimetricamente ensaiados, vozes afiadas e uma energia crua, incendiaram a plateia. A loucura tinha nome, som e sobrenome: Jackson 5.

O impacto foi imediato. Após aquele show, não havia mais retorno. Os irmãos se tornaram reféns da própria fama. Cada aeroporto se tornaria um novo campo de guerra emocional. Cada show, um rito de devoção. Cada olhar de Michael, uma faísca de algo muito maior que ainda nasceria. Era o começo de uma vida sob os holofotes — uma luz que, embora encantadora, também queima, cobra, esgota.

Mas ali, naquela noite de maio, ninguém pensava nisso. Só havia música, suor, gritos e a sensação de que o mundo havia ganhado algo mágico. A Filadélfia foi o primeiro altar, e os Jackson 5, os jovens profetas de uma revolução sonora que mudaria a cultura pop para sempre. “Foi ali que tudo começou”, disse Jermaine. “Ali entendemos que a música era nossa arma, nosso fardo e nosso destino.”

E Michael, que naquela noite pensou em desistir, dançou. Dançou com medo, dançou com a alma. A multidão delirava, e ele começava, mesmo sem saber, a trilhar o caminho que o transformaria não apenas no maior artista de sua geração — mas no eterno Rei do Pop. Foi só o começo.

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