Era fim de tarde quando Michael Jackson, aos 23 anos, tomou pela primeira vez o volante com uma missão pessoal: levar sua mãe Katherine e a irmã La Toya para um passeio. O destino? As curvas traiçoeiras e cinematográficas de Hollywood Hills. O que prometia ser uma tarde tranquila rapidamente se transformou numa montanha-russa emocional. Entre freios abruptos, curvas mal calculadas e o som do motor ronronando ansioso, Katherine segurava firme no assento enquanto La Toya, em puro pânico, rezava para sair viva dali. O Rei do Pop talvez não fosse ainda o rei da estrada — mas já sabia como criar suspense.
No livro My Family, The Jacksons, lançado em 1990, Katherine revive essas lembranças com humor. Ao comentar sobre as aventuras automotivas do filho, não hesita: “Ele é ruim e perigoso!” A frase, que brinca com os títulos de dois dos maiores sucessos musicais de Michael — Bad e Dangerous — é uma descrição honesta da inexperiência do astro como motorista.
Na época, ele sequer tinha carteira de habilitação e seus pais estavam determinados a mudar isso. “E se o motorista tiver um problema durante uma viagem? Vocês vão ficar parados na estrada?”, argumentava Katherine. A lógica venceu a resistência, e no final de 1981 e Michael ”aprendeu a dirigir”.
Nos primeiros dias ao volante, Michael se limitava a ir da casa para a igreja, ou ao estúdio de gravação. Mas a liberdade que vinha com a direção o cativou rapidamente. E foi nesse espírito aventureiro que decidiu fazer o fatídico passeio com a família. “Eu estava com os freios nos meus pés e dirigia com meu pescoço, tentando mantê-lo na estrada. Eu fiquei apavorada”, relembra La Toya, em um dos trechos do livro. O jovem motorista ainda tinha o hábito preocupante de correr e frear perigosamente perto dos carros à frente — uma mania que aumentava a adrenalina de todos, menos dele.
Com o tempo, Michael se sentiu confiante o suficiente para dirigir sozinho — o que aterrorizava sua mãe. Ela insistia para que ele sempre levasse um segurança. “Estou cansado de ter um segurança comigo, toda vez que quero ir a algum lugar”, respondia ele, desejando saborear a rara sensação de anonimato, mesmo que por algumas milhas de asfalto. Katherine, em vão, tentava argumentar com a lógica do perigo. Mas Michael queria apenas dirigir como qualquer jovem adulto.
Seu primeiro carro foi um Mercedes, seguido por um Rolls-Royce preto que mandou pintar de azul. Ao ser parado por um policial que desconfiava do veículo — afinal, um jovem negro dirigindo um Rolls-Royce azul chamava atenção — Michael foi surpreendido ao ser tratado como suspeito comum. O policial não o reconheceu. Pediu os documentos, encontrou uma multa vencida e mandou guinchar o carro. Resultado? Michael Jackson passou uma noite na delegacia de Van Nuys.
Na manhã seguinte, já em casa, ele relatou o ocorrido com um misto de frustração e filosofia. “Eu não falei quem eu era para o policial, e ele deve ter achado que um negro não poderia ser dono de um Rolls-Royce. Mas eu também queria saber como era estar na cadeia…” A declaração, embora carregada de ironia, também revela uma faceta profunda de Michael: o desejo de entender o mundo real, o mundo longe do estrelato, mesmo que isso significasse encarar injustiças ou desconfortos.
Aquela breve incursão pelo universo de motoristas e estradas, com suas curvas, guinchos e noites em delegacias, foi apenas mais um episódio na vida fascinante de Michael Jackson. Um episódio onde a liberdade, o risco e o racismo se cruzaram no mesmo caminho. Um episódio que, como tantos outros na vida do astro, parece mais roteiro de filme do que realidade. Mas foi tudo verdade. Katherine escreveu. E quem lê, jamais esquece.