Era 15 de outubro de 1997 quando as luzes do último show da turnê HIStory se apagaram em solo africano. Michael Jackson, o homem que redefiniu o que era ser um astro global, havia chegado ao seu limite. Cansado, drenado de energia e emocionalmente exausto, ele tomou uma decisão: ir para casa. Para Neverland. Lá, entre carrosséis e cavalos, o artista se permitiu o que a indústria jamais quis lhe dar — descanso.
Antes disso, Michael havia cumprido cada compromisso agendado na Europa com disciplina militar. A HIStory World Tour havia sido uma vitória comercial, sim, mas a que custo? Detrás das coreografias impecáveis e dos vocais potentes, havia um homem lidando com desgaste físico, pressão implacável da mídia e negócios cada vez mais distantes de sua visão artística. Ao romper laços com o príncipe Al-Walid e o empresário Tarak Ben Ammar, Michael escolheu a solidão como forma de libertação.
O fim da parceria com esses aliados estratégicos não foi apenas uma decisão comercial — foi um gesto simbólico de autonomia. Michael voltava a estar no comando de si mesmo, ainda que o peso disso fosse esmagador. Enquanto muitos especulavam sobre seu futuro, ele colhia frutos: Blood on the Dance Floor se tornara o álbum de remixes mais vendido da história, com treze milhões de cópias. Como último presente da era HIStory, a Sony lançou o VHS especial de Ghosts, um curta que é arte pura.
Nos bastidores, havia planos para levar a turnê à América do Sul em 1998, mas Michael recusou. Preferiu trocar estádios lotados pelas risadas de Prince e Paris. Pela primeira vez em muitos anos, a música não era urgência — era memória. O homem que sempre cantou sobre mudar o mundo agora precisava apenas mudar a si mesmo. E o fez com silêncio, com ausência. Michael desapareceu dos holofotes.

Ainda assim, a arte chamava. Michael anunciou à Sony que um novo álbum estava sendo preparado. A data? 9 de novembro de 1999. Mas o projeto, ambicioso e pessoal, não obedeceria ao cronograma da gravadora. O perfeccionismo dele, somado à própria luta interna por reinvenção, faria com que o lançamento atrasasse por dois anos. Os fãs esperavam, impacientes — mas o artista sabia: pressa e genialidade raramente caminham juntas.
Esse hiato, que muitos interpretaram como fuga, foi, na verdade, sobrevivência. Michael Jackson, mais do que uma estrela, era um ser humano tentando respirar. Sua retirada foi um gesto de autocuidado, de resistência íntima contra uma indústria que o consumia. Ele sabia que precisava desaparecer um pouco para continuar eterno. E foi isso que fez. No tempo em que o mundo pedia mais um show, ele escolheu ouvir os próprios passos rumo à liberdade.
Foi nesse momento que Michael disse realmente: This is it. Percebendo o esgotamento físico, Michael se permitiu ser humano por um tempo, já havia se doado bastante aos fãs, precisava se doar a si próprio. Teve sucesso, fama, dinheiro, mas não teve paz. Resolveu se dar esse direito na vida pessoal, com os filhos , percebeu que a musica não foi quem ele era e sim o que ele fazia, decidiu fechar as cortinas para refletir, parecia que sabia que sua vida seria breve, então deu um tempo com as turnês e jamais voltaria a faze-las. Nunca foi ostracismo.