Keep The Faith: O evangelho de Michael Jackson
Em meio ao brilho das luzes, das coreografias milimetricamente executadas e dos recordes quebrados em escala planetária, Michael Jackson carregava dentro de si uma chama silenciosa: a de ser um mensageiro da fé, da esperança e da compaixão humana.
Em uma indústria movida a ego, fama e cifras, Michael ousava ser diferente — não apenas pela genialidade musical, mas pela coragem de usar sua arte para tocar o que há de mais íntimo e sagrado no ser humano: a alma. Em cada álbum, havia sempre aquela canção que parecia escrita não para o mundo dançar, mas para o mundo refletir.
Seus discos, do início ao fim, sempre guardavam espaço para uma canção guiada por vozes celestiais. Era ali que o coral de Andraé Crouch surgia, como se abrisse uma janela para o divino. Era mais do que música — era oração.
Michael compreendia a importância da espiritualidade na arte, e, por isso, nunca teve medo de falar de Deus, de amor universal e de redenção. Ele sabia que essas mensagens não vendiam tanto quanto um hit dançante, mas insistia nelas, porque seu compromisso com o bem era maior que o apelo do mercado.
Entre tantas canções que representam esse pilar espiritual, uma merece atenção especial: “Keep The Faith”. Pouco lembrada pelo grande público, talvez por não ter sido lançada como single, essa faixa do álbum Dangerous carrega uma força transformadora. Escrita por Siedah Garrett e Glen Ballard, os mesmos compositores de “Man In The Mirror” — a canção surge como um sucessor espiritual daquele sucesso mundial.
Mas enquanto “Man In The Mirror” pedia mudança externa a partir do espelho, “Keep The Faith” mergulha no íntimo, no invisível, no que sustenta o ser humano em dias de escuridão: a fé.
A letra é um sussurro de encorajamento. “Levante a cabeça para o céu / continue acreditando até o dia em que você vencer”, canta Michael, como quem implora que ninguém desista.
Michael Jackson era assim: um peregrino sonoro entre o palco e o altar. Suas mensagens incomodavam porque falavam de luz num mundo que se alimenta de sombras. Talvez por isso tantos tentaram silenciar sua voz. Porque um homem que fala de Deus, que desperta esperança, que empurra o ser humano de volta para si mesmo, sempre será ameaça aos sistemas que preferem manter a humanidade adormecida.
Mas a obra de Michael resiste. E “Keep The Faith” está lá, como um testamento. Um lembrete de que, por mais que tentem derrubar, a fé — essa sim — sempre se levanta.