Em uma época em que clipes musicais começavam a se consolidar como peças artísticas, Michael Jackson decidiu ir além. Não se tratava apenas de vídeos: para ele, eram verdadeiros curta-metragens com alma, narrativa e espetáculo. Em 1992, para dar vida ao visual de Remember The Time, Michael confiou na nova geração de cineastas americanos e convocou um jovem de apenas 24 anos — John Singleton, recém-saído do sucesso de Boyz N the Hood. Um gesto ousado e generoso, vindo de um artista que já havia trabalhado com grandes nomes, mas que acreditava na força do talento emergente.
Singleton nunca esqueceu a confiança depositada por Michael. “Ele disse: ‘Tudo o que você quiser para tornar isso o mais legal possível, vamos fazer’”, relembrou. E foi assim que surgiu a ideia de transformar o clipe em um espetáculo ambientado no Egito Antigo, estrelando ninguém menos que Eddie Murphy, Iman e Magic Johnson. À época, Johnson havia acabado de revelar ao mundo sua condição de soropositivo. Jackson fez questão de incluí-lo. “Temos que colocar Magic neste vídeo”, insistiu Michael. Era mais do que uma escolha artística — era uma declaração pública de empatia e coragem.

A estética do clipe era deslumbrante. Figurinos, cenografia, narrativa — tudo envolvido por um senso de grandiosidade cinematográfica. Mas havia outro elemento essencial que pulsava com o mesmo brilho: a dança. Para isso, Michael confiou em outra jovem promessa: Fatima Robinson, uma coreógrafa de apenas 21 anos. Fatima, amiga de Singleton, seria a responsável por lapidar uma das performances mais elegantes e modernas da carreira de Jackson na década de 1990.
Fatima aprendeu rápido que dançar com Michael era mergulhar na música de uma maneira orgânica. Nada de contagens tradicionais. Jackson queria sentir a batida no corpo, não no número. “‘Uhn-Ah, Uhn-Ah, Uhn-Ah-Uhn-Ah’”, dizia ele, repetindo o ritmo com o corpo e a voz. Para Fatima, foi uma transformação profissional e espiritual. Ela não apenas ensinava: ela acompanhava o fluxo criativo de um artista que respirava a música por todos os poros.
Remember the Time não foi apenas um clipe. Foi um marco cultural, uma celebração da beleza negra, um conto visual que misturava história, ficção e o magnetismo único de Michael. A direção de Singleton, a coreografia de Fatima e a coragem de Michael em trazer rostos negros para o centro do palco tornaram o curta um símbolo de representatividade e inovação. Era uma resposta sutil e poderosa à narrativa dominante da época, e ao mesmo tempo, um tributo à ancestralidade.
Décadas depois, Remember The Time continua vivo — não apenas como entretenimento, mas como arte que ousou ser maior que o mercado. Foi a prova de que Michael Jackson não era apenas o Rei do Pop, mas também um visionário que sabia unir talentos, contar histórias e tocar o coração das pessoas sem dizer uma única palavra.
Esse clipe foi lançado exatamente dez anos após thriller e Michael, mais uma vez surpreendeu. A temática do antigo Egito foi muito bem pensada ainda mais com Eddie Murphy no papel de um faraó. Através da letra Michael interage como um condenado pelo rei do Egito que foge pelas dependências do templo , enganando os guardas e virando poeira no final, excelente. Michael sendo Michael.
O feito insuperável, até hoje