Em meio à euforia que cercava a produção do álbum Victory, de 1984, havia um silêncio criativo tão revelador quanto os gritos de seus fãs. Michael Jackson, já então consagrado como o maior astro do planeta, tinha mais a oferecer do que o público sequer sonhava. Em filmagens raras feitas por seu cameraman pessoal, Steve Howell, o artista confidencia, quase com a inocência de um garoto no laboratório de criação, que duas faixas inéditas — Buffalo Bill e Liberian Girl — estavam entre suas apostas pessoais para o disco. O brilho nos olhos de Michael não deixava dúvidas: havia ali algo especial.
No entanto, como em tantas decisões enigmáticas que marcaram sua trajetória, essas duas canções não viram a luz do palco naquele momento. Liberian Girl, mais tarde resgatada com esplendor em Bad, teve seu reconhecimento, mas Buffalo Bill permaneceu na sombra. O que levou Michael a abandonar tais faixas? Teria sido um impulso perfeccionista ou uma percepção de que elas pertenciam a tempos e contextos diferentes?
Enquanto Buffalo Bill foi engavetada e Liberian Girl adiada, outra escolha surpreendente tomou seu lugar: Be Not Always. Composta ainda em 1979 por Michael e Marlon Jackson — o extremo oposto da energia explosiva que impulsionou Off the Wall e Thriller.
Há quem diga que Be Not Always era, na verdade, um descarte de Triumph, o álbum anterior dos Jacksons. Mas, em Victory, ela ganhou um espaço silencioso, como quem entra em cena sem alarde e, mesmo assim, deixa um rastro de profundidade. O público geral pode ter passado batido, mas os fãs mais atentos — os que sabiam ler os silêncios de Michael — a acolheram como um sinal de vulnerabilidade artística raramente exposta.
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