Michael, o Vodu e as 42 Vacas da Vanity Fair
Você acorda num belo dia de 2003, abre uma revista renomada como a Vanity Fair esperando ver uma crítica de moda ou um perfil da Nicole Kidman — e encontra uma reportagem afirmando que Michael Jackson pagou US$ 150 mil para um ritual de vodu matar Steven Spielberg. É o tipo de manchete que só pode ter surgido de uma redação após uma overdose de cafeína e zero supervisão.
Segundo o texto, publicado em março daquele ano, o astro pop teria viajado à Suíça para participar de um ritual conduzido por um “chefe vodu” do Mali, chamado Baba, com direito a banho de sangue e sacrifício de 42 vacas. O objetivo? Acabar com uma suposta lista de 25 desafetos que incluía ninguém menos que Spielberg e David Geffen.
Sério, gente… quem precisa de Netflix quando se tem uma Vanity Fair surtada?
🎬 A vingança sobrenatural versão Carmen Sandiego meets Jornal Nacional
A logística do ritual parece escrita por roteiristas da novela O Clone em colab com a equipe de reportagem do Fantástico:
- A cerimônia aconteceu na Suíça (terra do fondue e da neutralidade);
- O dinheiro foi enviado para Mali, na África;
- As vítimas do suposto feitiço estavam nos Estados Unidos.
Ou seja: uma operação intercontinental de feitiçaria com escala em três fusos horários — uma espécie de Carmen Sandiego do vodu com roteiro dramático e mapa-múndi incluso. Só faltou o Plantão da Globo no meio da cerimônia.
🧟♂️ Prótese, peruca e preconceito disfarçado de “reportagem investigativa”
A revista ainda afirmava que Michael usava uma peruca estilo “page-boy”, uma prótese na ponta do nariz, e que sem elas “parecia uma múmia com buracos”. A cereja do preconceito? Acusá-lo de “odiar ser negro” e atribuir a ele um termo racista inventado que ninguém jamais ouviu sair da boca dele.
Aqui a gente precisa respirar fundo.
Não só porque o tom é evidentemente racista, mas porque isso diz muito mais sobre os autores da reportagem do que sobre Michael.
💸 E as dívidas? Também segundo eles…
O mesmo artigo dizia que Michael estava supostamente endividado em mais de 240 milhões de dólares, e que mesmo assim decidiu investir uma pequena fortuna no ritual vodu. Sim, porque nada diz “administração financeira” como gastar o valor de um apartamento em Higienópolis pra fazer magia contra Spielberg.
É importante lembrar que essas alegações vinham de um processo movido por um ex-funcionário, com clara intenção de desmoralizar Michael em público — e nenhuma delas foi comprovada em julgamento.
🔮 Tá Lóides, me segura
Essa matéria é um retrato perfeito de como a imprensa sensacionalista tratava Michael Jackson: com desumanização, especulação e racismo velado travestido de reportagem investigativa. Michael era um gênio, mas para parte da mídia, isso era menos interessante do que fantasiar que ele liderava seitas de magia internacional em chalés suíços.
No fim, o único feitiço que rolou aqui foi aquele que a mídia lançou sobre o público:
um encantamento de desinformação, preconceito e clickbait barato.
E como diria o antigo Tá Lóides:
“A verdade pode estar lá fora, mas a manchete tá aqui dentro… com 42 vacas, um xamã suíço e uma calúnia internacional.”
🔮 BÔNUS: O Flash game que entendeu tudo antes da imprensa
Nos tempos áureos da internet em Flash — aquela era dos GIFs pixelados, menus que piscavam e trilha em MIDI — surgiu um jogo chamado “Michael Jackson’s Voodoo”.
A proposta? Tão ridícula quanto genial:

Você clicava em um xamã estilizado, com máscara tribal e lança em punho, e ele lançava um “voodoo digital” aleatório sobre alguma celebridade. Atribuição direta: Michael Jackson enviou.
A lista de vítimas incluía desde Britney até o George W. Bush.
O próprio jogo parecia sussurrar:
“Se a mídia pode inventar isso, a gente pode também — mas com efeitos especiais.”
O mais insano?
O jogo soava mais honesto do que a reportagem da Vanity Fair.
Era a internet dizendo:
“Se é pra ser absurdo, que pelo menos seja divertido.”