As luzes da Bad World Tour mal haviam se apagado quando Michael Jackson voltou ao estúdio com uma obsessão: criar algo maior, mais forte e mais relevante. Entre rascunhos e experimentações sonoras, um riff explosivo de guitarra surgiu. Ele não sabia, mas aquele som inicial daria vida a um dos maiores hinos de sua carreira: Black or White.
O primeiro rascunho surgiu em 1987, ainda nos bastidores da Bad era. Mas foi apenas em 1989 que a ideia tomou forma definitiva. Michael chamou o produtor Bill Bottrell para dar vida àquilo que ele já havia imaginado com clareza. “Ele já tinha toda a introdução pronta na cabeça”, lembrou Bottrell. O foco era unir impacto musical com uma mensagem global.
Naquele final de década, o mundo passava por grandes transformações. O Muro de Berlim havia caído, o comunismo europeu entrava em colapso, e uma nova ordem começava a surgir. Michael percebeu que a música precisava acompanhar esse novo momento. Seu objetivo era claro: falar sobre igualdade racial, de forma acessível, energética e moderna.
Black or White não se encaixava em rótulos. Misturava rock, pop e rap com naturalidade, algo ousado para o início dos anos 1990. A canção estava, originalmente, reservada para a coletânea Decade, mas cresceu tanto que se tornou o pilar central do álbum Dangerous. O mundo precisava ouvir essa música – e ele sabia disso.

Como era costume em seus lançamentos, Michael queria um dueto marcante para o single. Pensou em repetir a fórmula de sucesso de The Girl Is Mine, que havia feito com Paul McCartney. O plano era trazer Madonna para a faixa In the Closet, mas ela recusou. Foi aí que entrou Slash, o lendário guitarrista do Guns N’ Roses, para incendiar o início de Black or White.
O encontro com Slash foi rápido. “Ele me deixou sozinho no estúdio e disse: ‘faça o que quiser’”, contou o guitarrista. Mas a conexão criativa foi imediata. Slash e Michael formaram uma parceria de respeito, que viria a brilhar em shows futuros. Porém, o solo principal da música não é dele – é de Tim Pierce, que seguiu uma sugestão de Jackson: criar algo na pegada do Mötley Crüe.
O videoclipe foi tratado como um curta-metragem cinematográfico. Tudo começa com um adolescente (Andres McKenzie) sendo repreendido pelo pai por ouvir música alta. Em resposta, ele explode o volume, e a energia de Black or White toma conta da tela. Era mais do que um clipe: era uma declaração.
Na parte técnica, Bottrell usou uma guitarra Kramer para o riff principal e uma Gibson LG2 de 1940 para os versos. Essa combinação criou uma base sonora que se entrelaçava perfeitamente à voz de Michael. A produção foi pensada em cada detalhe, da afinação dos instrumentos ao arranjo do rap no meio da música.
O impacto foi imediato. Black or White ficou sete semanas no topo da Billboard Hot 100, sendo o maior sucesso de Jackson desde Billie Jean. Também se tornou o single de rock mais vendido da década de 90, um feito histórico. Mais do que um hit, era um grito global por igualdade racial e respeito.
Mais de trinta anos se passaram, mas a canção continua atual. Black or White não é apenas música – é manifesto, é símbolo, é resistência. Jackson sabia que precisava usar sua arte para algo maior. E com essa faixa, ele provou que música pode unir, provocar e transformar. É por isso que sua voz ainda ecoa.