Por Andréa Luisa Bucchile Faggion;
Originalmente publicado na coluna “Amém”, Edcyhis (Outubro de 2002);
Republicação adaptada pela MJ Beats.
Verdade seja dita: o escândalo de 1993 arruinou a carreira de Michael Jackson.
O álbum que veio logo depois, HIStory, narrava — em sua primeira metade — um passado de grandes sucessos, e — em sua segunda metade — um drama pessoal.
Aquela era, de fato, a história dele naquele momento.
Apesar de tudo e contra tudo, o álbum foi um sucesso — ou, ao menos, é o que os números nos levam a crer.
Depois veio Blood on the Dance Floor. Um projeto sem grandes pretensões: poucas faixas inéditas e pouca promoção.
Ainda assim, apesar de tudo e contra tudo, também foi um sucesso — segundo os números.
Maior álbum duplo de todos os tempos, maior álbum de remixes de todos os tempos — dizem as estatísticas.
Mas… e o impacto cultural?
Verdade seja dita: nesse aspecto, esses discos não chegam perto de Thriller, Bad ou Dangerous.
E foi aí que surgiu o grande desafio para o Rei do Pop: voltar a sacudir o mundo.
Nascia Invincible.
O título já deixava claro que Michael não havia superado 1993 — um ano que, para ele, nunca terminou.
É verdade que sempre houve ataques vindos de todos os lados.
Mas foi a partir daquele ano que o Rei teve que virar guerreiro — e chegar ao novo milênio se declarando invencível e indestrutível diante dos inimigos.
Invincible foi um álbum que buscou, de certa forma, reconstruir os pedaços da carreira de Michael.
Hoje, os defensores de Michael dizem que o disco vendeu quase 10 milhões de cópias.
Apesar de tudo e contra tudo, foi um sucesso — ou, mais uma vez, é o que os números indicam.
Mas números não significam tudo.
De que adianta se a música não está mais nas conversas da escola, no jantar em família, na fila do cinema ou no bar com os amigos?
A verdade é que faz muito tempo — talvez desde a estreia de Black or White — que Michael não tem mais o que um certo insider chamou de “Bang”.
Não é questão de qualidade musical.
Invincible tem de sobra.
Não é questão de talento.
É questão de atitude.
O Michael pós-93 foi raivoso em HIStory, como um guerreiro ferido disparando seus últimos tiros — e depois… morreu.
O Michael de Invincible não poderia, honestamente, se considerar Rei do Pop.
Observe bem: não se diz “Rei da Música Pop”.
Diz-se “Rei do Pop”.
Pop — todos sabem — vem de popular.
Reinar no pop é estar imerso na cultura popular, ditar comportamentos e tendências, e absorver a cultura ao redor.
Mas nas aparições de Michael durante a era Invincible, o que vimos foi uma desconexão.
Entre o patético e o grotesco. Quase surreal.
Ele parecia ter perdido a ligação com as pessoas — com a vida.
No Madison Square Garden, vimos um Michael visivelmente alterado, com parte do rosto paralisada, lutando até para manter a roupa em ordem.
As aparições que vieram depois foram um desfile deprimente.
O discurso, repetitivo, deixou de ser insosso para se tornar infantilmente agressivo.
O cabelo longo e liso dava um aspecto frágil, feminino e quase fantasmagórico.
As roupas só reforçavam a caricatura que a imprensa tanto gostava de pintar: o Michael do presente parecia uma sombra do Michael do passado.
De forma simbólica, não foi à toa que, em sua última aparição, sua roupa tenha vindo — pasmem — diretamente de um museu.
Este é o quadro — goste-se ou não.
Agora, Michael Jackson está diante de sua última chance.
Seu próximo álbum vai definir se, daqui a 30 anos, ele será lembrado como a estrela que entrou em decadência no final da carreira — ou como o fenômeno que continuou a influenciar a cultura popular no Ocidente e no Oriente por décadas.
Não é uma questão de quantas cópias o álbum vai vender.
A questão é:
quanto ele vai significar para mim, para você, para nossos amigos, vizinhos, parentes…
A questão é:
Se, no bom e velho sentido da palavra, Michael Jackson quer — e ainda pode — voltar a ser pop.
[*] Este texto foi adaptado para refletir os valores e diretrizes atuais, com o objetivo de preservar sua relevância e respeito ao público contemporâneo.