Por Andréa Luisa Bucchile Faggion;
Originalmente publicado na coluna “Amém”, Edcyhis (Junho de 2003);
Republicação adaptada pela MJ Beats.
Somos obcecados pelo novo. Queremos o futuro agora — mas vivemos em uma época estéril.
Resultado: o mesmo nos é vendido em embalagem de novidade, e estamos mais do que satisfeitos.
Um “Duda Mendonça” qualquer convence a massa de que o produto que ele vende é “mudança”.
Quanta virtualidade, quando o que compramos de fato são mais juros, mais impostos, mais desemprego — enfim, apenas mais do mesmo.
O fenômeno não é só nacional. No mundo todo, não há alternativas visíveis para uma política econômica que gera miséria e recessão, enquanto enriquece uma minoria de banqueiros e especuladores.
Nada disso impede que candidatos — financiados por esses mesmos grupos — se elejam prometendo “o novo”.
Vivemos uma época que cultua o novo, mas não quer mudar — e tampouco sabe qual seria a alternativa.
A solução, então, é o “Arquiteto” usar a mídia-Matrix para criar a ilusão de que algo está ou pode ser diferente.
Não desligue a TV, ou você pode acordar em um casulo, tendo sua energia sugada há séculos.
Por falar em Matrix: fomos convencidos a fazer fila nas bilheterias para assistir à mais nova “revolução cinematográfica”.
A partir de Matrix Reloaded, nada mais seria como antes.
Ah, e como gostamos dessa frase: “nada será como antes!”
Mas o que tivemos de fato?
Antes, havia um agente Smith. Agora, dúzias. Novidade?
Ironias à parte, Matrix Reloaded debocha da liberdade de escolha.
Seus humanos são controlados pelo sistema e, como gostam de acreditar que são livres, o sistema lhes concede essa ilusão.
Qualquer semelhança com a realidade… mera coincidência?
Faça uma boa campanha promocional e você terá filas de carneirinhos — seja na bilheteria ou na urna eleitoral.
Tudo que você precisa fazer é prometer um “maravilhoso mundo novo” e dizer: “é só você querer”.
E o que isso tem a ver com Michael Jackson?
Aí é que está: terá?
No lançamento de Invincible, prometeram-nos um som nunca ouvido antes.
Mas os carneirinhos não fizeram filas para comprá-lo — porque o álbum, mal nascido, já ficou órfão de pai e mãe.
Não se deram ao trabalho de implantar um programa em nossas cabecinhas dizendo para comprá-lo.
Depois, disseram que, ciente da falta de apoio, Michael retirou as melhores faixas para não desperdiçá-las.
Devemos então supor que as “novidades” foram transplantadas para o próximo álbum?
Dizem os céticos que não haverá novidade, porque na música tudo já foi criado — em parte, aliás, pelo próprio Michael Jackson.
Mas gênio ou criador é justamente quem não se conforma às regras e faz o novo.
Se os simples mortais tivessem essa antevisão, não seriam mais simples mortais.
Se o novo fosse previsível segundo as regras do sistema vigente, não seria mais novo.
Se o sistema quisesse o novo, já não seria mais o sistema vigente.
A questão, então, é:
Michael tomará a pílula azul e lançará um álbum que nos traga mais do mesmo — embalado como novo — com uma campanha promocional impecável?
Ou alguém terá coragem de tomar a pílula vermelha, arriscando-se a fugir da Matrix e nos libertar da mesmice?
Lembrem-se: a Matrix nos controla, mas também nos conforta.
É mais fácil ser Michael Reloaded do que ousar ser Michael Revolution — e correr o risco de ser banido do sistema, ficando sem as filas de carneirinhos com programas implantados no cérebro, à disposição.
[*] Este texto foi adaptado para refletir os valores e diretrizes atuais, com o objetivo de preservar sua relevância e respeito ao público contemporâneo.