Michael Jackson em performance de "Billie Jean", 1999

A Arte Quer Fazer Amor com Você

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Por Andréa Luisa Bucchile Faggion;
Originalmente publicado na coluna “Amém”, Edcyhis (Novembro de 2003);
Republicação adaptada pela MJ Beats.


Nos (bons) tempos do rebolado de Elvis, a música branca descobriu que precisava se casar com a música negra.

Nascia o bom e velho rock’n roll, que, diziam, devia ser feito com uma mão branca e uma negra.

A mão negra trazia, com seu ritmo, a sexualidade para dentro da música.

A mão branca… bem, ainda não se sabe ao certo o que acrescentou — além dos rostos que a mídia preferia ver.

Mas isso é outra história.

Hoje, vamos falar de sexo.


O que aconteceu conosco nas últimas décadas?

Certamente, mudamos muito.

Partindo do medo da música e da dança “venenosa” dos negros, chegamos a um ponto em que a música nem interessa mais em comparação com o sexo.

Ela se tornou apenas a embalagem da sensualidade.

Maior símbolo disso: Madonna.

Quando você ouve esse nome, o que vem à mente primeiro: música ou sexo?

Às vezes até esquecemos que ela canta.


Sua sucessora natural, Britney Spears, aprendeu rapidamente que, por mais hipócrita e conservadora que seja a sociedade americana, o único caminho para permanecer no mercado era comercializar sua sexualidade.

A bem da verdade, ela sempre soube disso.

Desde os tempos em que se apresentava como colegial “virgem”, não havia inocência ali — exceto aquela criada para ser vendida a marmanjos doentios que, em suas fantasias mais obscuras, preferem “menininhas” a mulheres.


Mas nem sempre foi assim.

Nem sempre o sexo se sobrepôs à arte, transformando-se em mercadoria.

Não era para ser assim.

Houve um tempo em que o sexo era um modo de ser, uma forma de expressão artística.

E esses tempos de Elvis e sua pélvis censurada não estão mortos.

Pelo menos não enquanto existir um rebolador chamado Michael Jackson.


É fácil perceber o que há em comum entre esses dois mitos, não?

Quando estão no palco, o órgão sexual de cada um parece um centro de onde emana uma energia que alimenta o show e contagia o público, levando-o a um alto grau de excitação.

É fácil perceber o envolvimento erótico de ambos com a música.

Certamente, não teriam se tornado mitos sem esse envolvimento — que os diferencia de figuras mais insípidas como os Beatles, por exemplo, a quem faltou a mão negra.


O envolvimento de Elvis e Michael com a música é sexual — mas de forma tão natural que o erotismo não impediu Elvis de se tornar um mito da família americana, e não apenas dos jovens.

Quanto a Michael Jackson, a família inteira sempre se divertiu com seus gestos “obscenos”.

Michael se diz um escravo do ritmo para justificar os gestos — mas nem precisaria, porque todos já compreendemos.

A performance é um ato sexual entre ele e a música, que envolve a todos.

E, naquele momento, todos compreendem.


Não há o que censurar — porque Michael sequer é um sex symbol.

Ele não usa o sexo para prostituir a música.

Ele usa o sexo para fazer amor com ela.

Na contramão de tantas estrelas, sua imagem aparece como assexuada para a maior parte do público.

Para uma grande parcela, nada parece menos sexualmente atraente do que Michael… fora do palco.


Mas no palco, Michael nos leva de volta ao tempo em que brancos espiavam de fora as festas negras, sem saber ao certo o que estava acontecendo durante a música.

Seria uma orgia?

Depois que Elvis abriu a porta da festa, Michael nos convidou a entrar e sentir a música em sua plenitude — inclusive de um modo físico.


Agora você entende por que garotas desmaiam durante os concertos de Michael Jackson, mesmo que ele não tenha o rostinho de um vocalista de boy band, não é?

Agora você entende por que fãs heterossexuais do sexo masculino costumam confessar — ainda que embaraçados — que sentem a sensualidade que vem dele.

Ou você vai dizer que nunca sentiu?


Calma, não precisa se constranger.

Tudo o que você sentiu foi a arte usando o corpo dele para tocar você da forma mais íntima.

Relaxe e aproveite.


[*] Este texto foi adaptado para refletir os valores e diretrizes atuais, com o objetivo de preservar sua relevância e respeito ao público contemporâneo.


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