Michael Jackson em Neverland, luzes de Natal ao fundo

Um Veredicto Para o Amor

Por Andréa Luisa Bucchile Faggion;
Originalmente publicado na coluna “Amém”, Edcyhis (Dezembro de 2003);
Republicação adaptada pela MJ Beats.


Ao som de You Are My Life, o “criminoso”, aparentemente, beija os lábios de seu filho mais velho.

Entre risadas, joga balões d’água da sacada do hotel, acompanhado pelo garotinho de Esqueceram de Mim.

Sempre jovial, distribui apelidos e chama a todos, carinhosamente, de Rubba.

Nos encartes de seus álbuns, encontramos a maior concentração da palavra “amor” por centímetro quadrado.

Sim, são “cartas de amor” — pois a palavra escrita por esse “pervertido” insiste em sempre formar uma carta de amor.


Em sua casa, almofadas estampam Peter Pan no mesmo quarto em que um pôster de Shirley Temple adorna a parede.

Este é, portanto, o cenário dos seus “crimes”!

E há “testemunhas”:

Um ex-segurança afirma que, certa vez, pasmem, ele chegou a tocar o ombro de um companheiro de videogame — com o agravante de estarem tão próximos que houve contato corporal entre eles.

Senhoras e senhores, este é o crime do século!

Este é o comportamento que choca o mundo contemporâneo e faz a mídia clamar por justiça, afinal, há tantas “evidências”.


Vivemos em um mundo tão triste que tememos a criança que se aproxima do carro no sinal e desconfiamos das intenções do pai que coloca a filha no colo.

Já não sabemos mais se a maldade que tememos é aquela que realmente sofremos — ou a maldade que, como ensinou Freud, está nos nossos próprios corações e, por isso, a projetamos no outro.


Mas se déssemos uma chance ao outro, será que não correríamos o risco de uma faca cravada nas costas?

Conhecemos um homem que deu uma segunda chance à vida — e foi novamente traído e abusado.

Antes, todos o aconselharam a amar com reservas, amar com prudência.

Mas ele já tivera o coração tantas vezes partido que não podia deixar de mantê-lo aberto, ainda que sangrando.

O homem da câmara de oxigênio preferiu, ironicamente, não viver na redoma em que nós vivemos.


O crime deste homem é amar acima de tudo.

É amar sem “mas” e sem “porém”.


Quando o veredicto para este homem for anunciado, o júri terá de escolher entre duas alternativas:

1Amor é a palavra que define — e disfarça — uma atração perversa pela inocência.

2Amor é a palavra que define o sentimento desinteressado de alguém que preservou, sabe-se lá como, a pureza da alma.


Se a primeira alternativa prevalecer, estaremos todos condenados a viver em um mundo em que amar é crime aos olhos do outro.

E, nesse mundo, onde as grades foram colocadas ao redor de nossos corações, que importa estar fora da prisão?


[*] Este texto foi adaptado para refletir os valores e diretrizes atuais, com o objetivo de preservar sua relevância e respeito ao público contemporâneo.