A história do álbum mais importante da música pop mundial
No dia 30 de novembro de 1982, chegava às lojas um disco que mudaria os rumos da indústria fonográfica. Thriller é mais que o álbum mais vendido da história. Este trabalho é o grande marco da música negra dentro da cultura pop, o ponta pé para a era dos videoclipes e a consolidação do maior ídolo musical da era moderna, Michael Jackson. Ao lado de Quincy Jones, o cantor produziu nove faixas que marcaram a vida de uma geração e até hoje influencia a composição de novos hits.
A produção de Thriller durou cerca de nove meses e marcou a segunda parceria entre Jackson e Jones, que se inciou em Off The Wall. O ritmo de R&B e disco que foi implantado no primeiro álbum solo de MJ, não sumiu no álbum seguinte, no entanto, deu lugar a uma série de mudanças que marcariam a gravação do mesmo. Aos poucos, o mundo eletrônico começava a tomar conta dos estúdios, baterias e sintetizadores apareciam como uma aposta de tendência nos próximos anos.
Thriller foi um dos últimos discos a ser predominantemente analógico. Alguns trechos de bateria eletrônica foram usados, mas o montante final do disco foi usado da maneira tradicional. De acordo com Quincy Jones, a intenção era manter as “sujeiras” do som. “É limpo demais, e não quero que minha música soe assim, pois ela não é concebida desta forma. A música é concebida com paixão e deve soar assim”, declara o produtor no livro A Vida e a Música de Michael Jackson, de George Benson.
Não se sabe ao certo quantas músicas foram escolhidas para o início dos trabalhos. Relatos contabilizam mais de 100 composições, escutadas uma a uma por Michael, que com a ajuda de Jones escolheu nove. Além da genialidade dos colaboradores, o processo de seleção talvez tenha sido a etapa mais importante para o sucesso de Thriller. Faixas como “Billie Jean”, “Beat It”, “Human Nature” e “Wanna Be Startin Something” carregam uma série de significados embutida desde as letras até os arranjos. Sem contar na parceria com Paul McCartney em “The Girl is Mine”.
A mistura de ritmos e a inserção de gêneros alheios ao soul e R&B foram preponderantes para a disseminação do álbum. Numa época onde ainda existia o preconceito em combinar instrumentos dentro da música negra, “Beat It” apresentou um solo de guitarra que mudou a música. Os segundos que Eddie Van Halen toca na faixa fizeram inúmeros críticos taxarem o álbum como algo “branco demais” para um artista negro. Ou criticar os ritmos africanos de “Wanna Be Startin Something” por não se encaixarem com o padrão do soul e funk dos últimos trabalhos de Michael Jackson.
Posteriormente, os mesmos céticos ratificariam a miscêlania de Thriller como a bíblia da música pop contemporânea. Como dois gênios a frente de suas realidades, Jackson e Jones montaram um conjunto de músicas e referências transcendentes ao tempo. Em questão de semanas, o álbum se tornou um fenômeno, vendendo cerca de 500 mil cópias por semana e encerrando 1983 com quase 30 milhões de discos vendidos. Além disso, sete singles foram lançados e alcançaram o topo das paradas. Na maior premiação musical da época, o Grammy Awards, o álbum estabeleceu o recorde de oito premiações em uma noite.
Outro importante fator para o alcance mundial de Thriller foi o seu apelo visual — a começar pela capa inusitada, com MJ e um tigre de colo. Após os clipes filmados com baixa produção de Off The Wall, o cantor começou a investir em suas habilidades narrativas e no gosto pelo cinema. O primeiro exemplo foi o clássico vídeo de “Billie Jean”, onde ele escapa de um papparazzi, ao mesmo tempo em que dança em uma calçada iluminada pelos seus passos.
Este vídeo era a prévia do que se tornaria a apresentação mais famosa da carreira do Rei do Pop. No palco da festa de aniversário de 25 anos da Motown, o Jackson Five se apresentou e em seguida deixou Michael sozinho no palco. De jaqueta, camisa, luva e meias brilhantes, um chapéu, calça e sapatos pretos, ele começou a cantar “Billie Jean”, fez o moonwalk e entrou para a história. Dali em diante, a vida de MJ mudou, Thriller se tornou um sucesso e a trajetória da cultura pop ganhou novos rumos.
Os aparatos brilhantes da música mais clássica do álbum ganharam outros companheiros, apresentados durante clipes que também marcaria época, como a jaqueta vermelha de “Thriller”, por exemplo. Esta faixa, inclusive, ganhou um vídeo com lobisomens e zumbis, enquanto “Beat It” trouxe uma rixa entre gangues — ambos com icônicas coreografias feitas por Jackson em parceria com Michael Peters. A era de videoclipes super produzidos começou ali, assim como a ascensão de emissoras totalmente destinadas à música, o que elevaria a popularidade de inúmeros artistas.
O sucesso deste álbum foi tão importante para indústria fonográfica — que àquela época já não contabilizava bons números -, quanto para a música negra no show business. Existiam ídolos como Stevie Wonder, Donna Summer e Marvin Gaye, no entanto, nenhum deles conseguia ultrapassar a barreira do preconceito. Se no rock Jimi Hendrix conseguiu mudar esta visão, Michael Jackson levou isso a outra dimensão, tornando a sua música aceita pela população em geral, independente de gênero ou cor. A ascensão de artistas como Whitney Houston e Eddie Murphy, por exemplo, estão diretamente ligadas ao sucesso de Thriller, por mais distante que as áreas de entretenimento estejam.
por Thiago Romariz