Em entrevista, parceiro criativo de Michael Jackson por quase 20 anos revela curiosidades sobre o Rei do Pop

Brad Buxer, tecladista e arranjador dos álbuns foi um amigo próximo de Michael Jackson por quase 20 anos. Em novembro de 2009 ele concedeu uma  única entrevista  para a fanzine francês Black & White.

Confira:

Black & White: Como você começou a trabalhar com Michael?

Brad Buxer: ‘‘Em 1986, fiz turnê com Stevie Wonder. Como todos sabem, Michael era um grande fã de Stevie, então ele seguia de perto os músicos que tocavam para ele. Até 1991 viajei com Wonder e, ao mesmo tempo, graças a ele, conheci Michael. Jamais esquecerei nosso primeiro encontro. Uma faísca instantaneamente brilhou entre nós: a música. Falávamos a mesma língua. Claro, rapidamente nos tornamos amigos. Nossa amizade começou naturalmente e se fortaleceu com o tempo.’’

Black & White: Então, logo você e Michael começaram o trabalho no álbum Dangerous?

Brad Buxer: ‘‘Sim. Antes de Teddy Riley se juntar à equipe, Bill Bottrell e eu gravamos várias demos, incluindo “Who Is It”, “Black Or White” e “Heal The World”.

Black & White: Dangerous foi o primeiro álbum gravado sem Quincy Jones. Por que você acha que isso aconteceu?

Brad Buxer: ‘‘Deixe-me esclarecer uma coisa: Michael não estava zangado com Quincy. Ele sempre o admirou e teve profundo respeito por ele. Mas com Dangerous, Michael queria ter controle total sobre o processo criativo, do início ao fim. Em outras palavras, ele queria ser seu próprio patrão. Michael sempre foi muito independente e queria mostrar que seu sucesso não dependia de ninguém, em particular, de Quincy. No entanto, a opinião de Quincy ainda foi considerada. Depois que terminamos Dangerous, Michael chamou Quincy para ajudá-lo nos estágios finais. E Quincy deu sua opinião sobre as canções. Quando ele disse que tínhamos criado uma obra-prima Michael não duvidou mais e o  álbum estava pronto para o lançamento.’’

Black & White: Uma das canções de destaque do álbum Dangerous é “Who Is It”. A música é muito semelhante em estrutura a “Billie Jean”. Michael fez de propósito?

Brad Buxer: ‘‘Não, acho que não. Na verdade, nunca prestei muita atenção nisso, mas agora estou pensando — e é verdade, “Who Is It” e “Billie Jean” são muito semelhantes. No entanto, apesar de todos os méritos de Who Is It, não acho que ela esteja ao lado de Billie Jean. Nenhuma música se compara a “Billie Jean”.

Black & White: Michael deu a você liberdade no estúdio?

Brad Buxer: ‘‘Claro. Michael foi flexível a este respeito, ele sempre foi aberto às minhas sugestões e ideias. Ele confiava em mim completamente. Muitas vezes ele cantarolava a melodia e eu criava o arranjo. Se ele não gostava de alguma coisa no arranjo de cordas ou teclados ele me dizia que não valia a pena ir nessa direção. Na música, Michael era um gênio. Às vezes, ele sabia exatamente o que queria ouvir e cantava todas as partes da música. Às vezes, ele me deixava tocar até ouvir algo de que gostou. Foi assim que nasceram as canções “Who Is It” e “Stranger In Moscow”.

Black & White: É verdade que às vezes Michael escrevia as letras primeiro e depois a melodia?

Brad Buxer: ‘‘Não, isso era muito raro. Michael costumava escrever a letra no último momento, em algum lugar no canto da mesa. Esse era o seu hábito [risos]. Ele terminava de orquestrar a música completamente antes de escrever a letra.’’

Black & White: Você já viu Michael irritado com o fato de que ele não conseguia tocar  um instrumento musical?

Brad Buxer: ‘‘Não me lembro. Mas um dia ele me pediu para lhe dar algumas aulas de piano. Eu disse: “Tudo bem, Michael, mas isso tem que ser levado a sério. Todos os dias teremos uma aula de 15 minutos e você tem que se concentrar. “Mas ele nunca tinha paciência. [risos] Acho que ele sabia que não precisava tocar nenhum instrumento para mostrar seu talento. Embora nunca tenha tocado nada, ele ainda era um músico fantástico. Ele instintivamente entendeu música. Era de sua natureza.’’

Black & White: Há rumores de que em 1993 Michael escreveu a música para o videogame Sonic 3, no qual você também trabalhou, é verdade?

Brad Buxer: ‘‘Eu nunca joguei esse jogo e não sei se os desenvolvedores mantiveram as faixas que Michael e eu fizemos, mas sim, nós escrevemos a música. Michael me ligou para ajudá-lo com este projeto e eu fiz. Se ele não estiver listado como o autor da música, provavelmente não ficou feliz com o resultado que saiu no jogo. Naquela época, os consoles não tinham os recursos técnicos para tocar música adequadamente e Michael ficou desapontado. Ele não queria ser associado a um produto que desvalorizava sua música.’’

Black & White: Surpreendentemente, a música de Sonic 3 contém os acordes “Stranger In Moscow”, embora tenha sido escrita mais tarde.

Brad Buxer: ‘‘Sim, Michael e eu fizemos os arranjos para o jogo, e então tomamos como base para “Stranger In Moscow”. De todas as canções em que Michael e eu trabalhamos, minha contribuição para Stranger In Moscow é a mais significativa. Não estou listado como o segundo compositor desta faixa, mas trabalhei em estreita colaboração com Michael quando criamos a composição e a estrutura da música. E toquei quase todas as partes instrumentais.’’

Black & White: Você ficou chateado por Michael não te listar como o compositor?

Brad Buxer: ‘‘Não. Eu não pedi por isso. Quando você tem a oportunidade de trabalhar com esse gênio, o reconhecimento não importa. Tive uma oportunidade única de trabalhar com Michael todos esses anos. Ele provavelmente trabalhou mais comigo do que qualquer outro. Eu estava envolvido nos arranjos de suas canções de 1989 a 2006. Estive no mesmo palco com ele.’’

Black & White: Você também tocou quase todas as partes instrumentais de Morphine.

Brad Buxer: ‘‘Sim, mas ao contrário de Stranger In Moscow, aqui Michael sabia exatamente o que queria ouvir de cada instrumento. Ele cantou todas as partes para mim — a parte do piano no meio e as partes do sintetizador no refrão. Tudo nesta música foi escrito por ele. Acabei de implementar suas ideias. Junto com dois engenheiros de som, até cantamos a palavra “Morphine” no refrão. Foi muito legal …’’

Black & White: Você pode nos contar sobre a música “In The Back” que foi lançada na The Ultimate Collection? Composição excepcional.

Brad Buxer: ‘‘Estou feliz que você se lembrou dessa música, é uma das minhas favoritas. Uma faixa incrível que mais uma vez prova que Michael era um gênio. Como Morphine toquei todas as partes dessa música, mas todas as ideias foram do Michael. Que pena que ele não escreveu a letra — essa música merecia ser concluída. Como “Beautiful Girl”, a propósito … Nós trabalhamos tanto quanto em “In The Back”! Gravamos muitas partes que não foram incluídas na versão que você conhece. Por exemplo, Bill Preston (um tecladista lendário que trabalhou com os Beatles e os Rolling Stones tocou órgão. Mas Michael então não o incluiu na música.’’

Black & White: Você gravou novas músicas com Michael depois do álbum Invincible. Você pode nos contar algo sobre eles?

Brad Buxer: ‘‘Sim, uma das últimas faixas que trabalhamos com Michael foi “From The Bottom Of My Heart”. Escrevemos para arrecadar dinheiro para as vítimas do furacão Katrina. Em geral, todas as músicas que gravamos nos últimos anos são de qualidade excepcional. Rumores de que Michael estaria em declínio criativo são injustos. Ele estava literalmente fervendo de ideias. E essas músicas eram mais originais do que as que fazíamos antes.’’

Black & White: Então nunca lhe faltou inspiração?

Brad Buxer: ‘‘Nunca. Michael sempre teve inspiração. Além disso, ele passou por muitas provações, por exemplo, a de 2005, e isso influenciou sua criatividade de forma positiva.’’

Black & White: Você acha que no futuro ouviremos todas essas músicas gravadas nos últimos anos de nossas vidas?

Brad Buxer: ‘‘Não tenho permissão para falar sobre isso, mas é muito provável.’’

Black & White: Você manteve contato com Michael depois que parou de trabalhar com ele?

Brad Buxer: ‘‘Em 2008ele me ligou e me pediu para trabalhar novamente. Mas o problema é que eu tinha acabado de tirar minha licença de piloto e fui contratado por uma grande companhia aérea. E os projetos com Michael eram vagos — ele nem tinha um contrato com uma gravadora, e eu não podia arriscar perder o emprego que me foi oferecido. Eu precisava de garantias, mas, neste caso, elas simplesmente não existiam. Para meu profundo pesar, tive que desistir de trabalhar com Michael.’’

Black & White: O que você mais lembra sobre Michael?

Brad Buxer: ‘‘A maneira como ríamos. Lembro-me de como corríamos pelos corredores do hotel, como organizávamos batalhas de comida em nossos quartos … Mas na maioria das vezes me lembro do sorriso dele quando terminávamos uma  música. Orgulho, amor e respeito eram  lidos neste sorriso. E esses sentimentos eram mútuos. Tive a sorte de considerar Michael um de meus melhores amigos por quase 20 anos. Tínhamos a mesma idade com ele. Nem preciso dizer que sinto uma falta terrível dele …’’

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