Michael Jackson e a verdadeira história de ‘Gone Too Soon’, a canção símbolo da luta contra a AIDS

Gone To Soon foi lançada como single em 1º de dezembro de 1993, por ocasião do Dia Mundial da AIDS.

Extraído como o nono e último single do álbum Dangerous, Gone Too Soon foi originalmente escrita por Buz Kohan e mais tarde gravada por Michael Jackson em homenagem a seu jovem amigo Ryan White, um adolescente americano que morreu em decorrência da AIDS.

No entanto, a história dessa música tem raízes muito mais distantes, datando de sete anos antes da trágica morte de Ryan.

Acompanhe:

Era um domingo de fevereiro de 1983. Embora já passasse muito mais da meia-noite, o telefone de Buz Kohan toca. Insistentemente.

Um pouco sonolenta, a mulher de Buz tirou o fone do gancho e, do outro lado da linha, ouviu uma voz sussurrar: ‘‘Desculpe, eu te acordei? Buzzie está aí?’’

Era Michael Jackson.

“Buzzie” — aliás — seria Buz Kohan, um conhecido produtor e roteirista de programas de televisão.

Jackson o conheceu quando ele tinha 12 anos. Buz, na verdade, morava perto de Encino, na bela Beaumont Street. Ele era um conhecido veterano na indústria do entretenimento e os dois se tornaram bons amigos.

O pequeno Michael, conhecido por sua curiosidade irreprimível, fez a Buz um número infinito de perguntas sobre figuras lendárias como Bing Crosby, Gene Kelly, Sammy Davis Jr. e Fred Astaire. “Os mestres”, como ele os chamava.
Anos depois, eles também trabalhariam juntos em Las Vegas para a série de TV da família Jackson.

A esposa de Kohan, Rhea, acostumada com os telefonemas noturnos de MJ, respondeu: “Só um segundo”, enquanto entregava o telefone ao marido.

Jackson queria falar com Buz por um motivo muito específico: na noite anterior, ele vira um especial de TV intitulado Here Television Entertainment, dedicado a vários artistas que morreram prematuramente; de John Lennon a Jimi Hendrix, de Janis Joplin a Sam Cooke.

A certa altura da transmissão, a artista Dionne Warwick executou a comovente interpretação de uma canção escrita por Buz Kohan junto com Larry Grossman. Seu título era Gone Too Soon.

Michael, que cresceu com a música dos Carpenters, ficou profundamente impressionado com a intensidade daquela música, a ponto de literalmente chorar.

Naquela noite, ele disse a Buz que sentia que precisava gravar algum dia.
“É sua quando você quiser”, falou Kohan.

Muitos anos depois, na primeira metade de 1990, Buz e Jackson estavam conversando ao telefone quando este mencionou uma pessoa com quem ele tinha se tornado amigo no ano anterior. Seu nome era Ryan White.

“Ele não viverá muito”, disse Michael. “Eu quero fazer algo especial para ele.”

Ryan, um menino de Kokomo, Indiana, havia se tornado a face nacional da AIDS nos Estados Unidos em uma época em que a doença ainda era incompreendida, estigmatizada e temida.

Por ser hemofílico, o jovem havia contraído o vírus após uma de suas frequentes transfusões de sangue. Por isso, era frequentemente evitado, ridicularizado, maltratado e até ameaçado por seus colegas de classe e pela comunidade da cidade.

Os meninos o chamavam de “bicha” e o tratavam como um leproso. Os membros de sua igreja local se recusavam a apertar sua mão e, eventualmente, ele foi forçado a deixar o ensino médio.

Michael ficou chocado e triste com essa história de preconceito, discriminação e ignorância. Então decidiu se aproximar de Ryan para oferecer-lhe amizade e apoio.

Logo, os dois se tornaram amigos.

Os dois estavam tão acostumados a se sentirem diferentes que foi um alívio compartilhar algumas horas de normalidade um com o outro.

Nos meses seguintes, eles falavam com frequência ao telefone. Ryan era um adolescente muito atencioso, eloquente e maduro. Ele entendeu que era odiado e temido por muitos e tinha a plena consciência que morreria em breve…

White e sua família visitou diversas vezes o rancho para Neverland. Eles caminhavam pelo rancho, e assistiram exclusivamente, antes da estreia a exibição privada do longa-metragem Indiana Jones e a Última Cruzada.

“Aquelas viagens à Califórnia me ajudaram a continuar”, declarou o menino.

Em 6 de dezembro de 1989, no aniversário de dezoito anos de Ryan, Michael comprou para ele um Mustang vermelho, o carro dos seus sonhos.

Mas quatro meses depois, em 8 de abril de 1990, Ryan White morreu.

No dia seguinte, Jackson voou para Indiana. Ele ficou sentado no quarto vazio de Ryan por horas, olhando seus souvenirs, roupas e fotos. “Eu não entendo porque uma criança tem que morrer. Eu realmente não entendo.”

A mãe de Ryan, Jeanne, disse a Michael que ele poderia levar o que quisesse como lembrança, mas ele disse a ela para manter tudo em seu quarto como estava.

No quintal estava o Mustang vermelho que Jackson lhe dera, coberto de flores por amigos. A irmã de White, Andrea, entrou no carro com Michael. Quando ele ligou o rádio do carro, Man in the Mirror começou a tocar.

Foi a última música que Ryan ouviu.

Assim que Buz Kohan soube da morte do jovem, ele pediu ao arquivista Paul Seurrat — que editou e catalogou os vídeos de Jackson — para editar as filmagens de Michael e Ryan juntos, com a versão de Dionne Warwick de Gone Too Soon em segundo plano.

MJ ligou para Buz logo depois; “Ela é perfeita”, disse ele.

Michael havia feito uma promessa a Ryan: “No meu próximo vídeo, você estará lá. Vou fazer com que o mundo saiba quem você é.”

Meses depois, Jackson estava no Ocean Way Recording em Los Angeles com Buz para gravar Gone Too Soon. Como de costume, Michael a cantou no escuro para mergulhar totalmente em sua esfera criativa e emocional.

Enquanto o ouvia, sentado com o engenheiro de som Bruce Swedien no console de controle, Buz sentiu um arrepio.

A letra fala sobre a beleza e a fragilidade da vida.

“Ele colocou sua alma nisso”, Buz recordaria mais tarde. “Não houve exagero ou pretensão. Foi uma verdadeira emoção.’’

Gone To Soon foi lançada como single em 1º de dezembro de 1993, por ocasião do Dia Mundial da AIDS.

Michael então cantaria ao vivo, pela primeira e única vez, durante o evento de Gala em homenagem ao 42º presidente eleito dos Estados Unidos, Bill Clinton.

Com este discurso:

‘‘Eu gostaria de ter um momento a partir desta cerimônia muito pública para falar de algo muito pessoal. Trata-se de um querido amigo meu, que não está mais entre nós. Seu nome é Ryan White.

Ele era hemofílico, e foi diagnosticado com o vírus da AIDS, quando ele tinha 11 anos. Ele morreu pouco depois de completar 18 anos, uma época em que a maioria dos jovens estão começando a explorar as possibilidades maravilhosas da vida.

Meu amigo Ryan era um jovem muito brilhante, muito corajoso, muito normal e que nunca quis ser um símbolo ou um porta-voz de uma doença mortal. Ao longo dos anos eu compartilhei muitos momentos bobos, felizes e dolorosos com Ryan, e eu estava presente no fim de sua breve, porém memorável viagem.

Ryan se foi, e assim como qualquer pessoa que tenha perdido um ente querido para a AIDS, eu sinto falta dele profundamente e constantemente. Ele se foi, mas eu quero que a sua vida tenha um significado além de seu falecimento.

É minha esperança, presidente eleito, Clinton, que você e sua administração comprometam os recursos necessários para eliminar esta doença terrível que levou meu amigo … e terminou com tantas vidas promissoras antes de seu tempo. Esta canção é para você.”

Abaixo, o vídeo da apresentação, 19 de janeiro de 1993.

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