Embora sua arte visual seja a mais aclamada, o Michael Jackson nos bastidores colocava a mão na massa (e no console) em estúdio
Michael Jackson e seus irmãos sempre quiseram produzir seus álbuns, desde os primórdios na Motown, quando ainda tinha pouco mais de 10 anos de idade. Porém, como esta liberdade criativa era bloqueada pelo selo, apenas em 1976, com a troca para a CBS Records e um novo contrato, foi que todos os Jacksons receberam a permissão de dar palpites e colocar a mão na massa em suas obras, mesmo que bem aos poucos.
Nos dois primeiros discos do grupo nesta fase, em que Jermaine Jackson foi substituído pelo irmão mais jovem Randy e o título da banda passou a ser The Jacksons, os meninos eram supervisionados de perto por executivos do selo. Porém, foi em Goin’ Places, o segundo álbum dos Jacksons lançado em 1977, que uma faixa se destacou: Different Kind of Lady. A música não saiu como single, não foi um estrondoso sucesso e nem alavancou o disco, porém era bem requisitada pelos DJs das casas noturnas e boates. Detalhe: a música era uma (de duas do álbum) produzida e composta por todos os irmãos juntos.
Foi assim que Walter Yetnikoff, CEO de todo o grupo CBS, decidiu dar uma última chance ao grupo, já que, depois de dois álbuns mornos, ele já estava a ponto de liquidar o contrato e demitir os meninos. Porém, com o sucesso espontâneo de Different Kind of Lady, ficou decidido que os Jacksons teriam mais liberdade como compositores e produtores no próximo álbum, que viria a sair em 1978, chamado Destiny. Mesmo com os olhos de falcão do executivo Bobby Colomby analisando cada passo dos irmãos Jackson, os meninos produziram mais da metade das canções do disco. A partir daí, muito mais experientes e confiantes, Michael e os irmãos passaram a produzir seus próprios trabalhos com muito mais frequência.
Em 1979, Michael co-produziu seu primeiro disco solo adulto, Off the Wall, ao lado do lendário e veterano Quincy Jones. A experiência foi uma verdadeira lição para o jovem e ainda inexperiente Michael Jackson, pelo menos em se tratando de produção em estúdio. Absorvendo e observando tudo que era feito por Quincy e sua equipe, Michael ainda se sentia inseguro em colocar este seu traço em prática, mas foi um passo importante para que ele se preparasse para próximos projetos de forma mais independente.
Apenas um ano depois, em 1980, enquando desfrutava do sucesso e relevância que seu primeiro disco solo adulto lhe proporcionava, ele produziu sozinho todos seus irmãos do The Jacksons no excelente álbum Triumph. Desta vez, sem a sombra de um produtor lendário a seu lado e sem o receio de frustrar alguém em estúdio, Michael pôde deslanchar e se sentiu muito mais a vontade de por em prática esta habilidade.
Em 1982, o disco mais vendido de todos os tempos seria lançado, Thriller, e, diferente do anterior Off the Wall 3 anos antes, aqui Michael e Quincy já estavam trabalhando mais nivelados, pois, em Triumph, Michael pôde praticar seu aprendizado para que se sentisse muito mais confiante e preparado ao produzir seu próximo projeto solo ao lado do veterano Quincy Jones.
Agora o maior astro do planeta, o ano era 1987 e o próximo disco de Michael Jackson, o último do contrato de 3 discos firmado entre Quincy Jones e a gravadora, era produzido por vários profissionais. Michael já estava com 28 anos e muito mais maduro, tanto em sua vida pessoal quanto em sua carreira. Sua habilidade como produtor estava no ponto mais alto, e discordâncias entre Quincy e Michael se tornaram frequentes, já que Michael já sentia muito capaz e preparado de trabalhar em seu disco como produtor principal, e não mais co-produzindo.
Apenas em 1991, com o término do contrato de Quincy Jones com a CBS, foi que Michael se tornou o produtor-chefe de seu próximo disco: Dangerous. Embora tenha sido sondado por vários outros produtores e músicos como Bryan Loren, Bill Bottrell e mais, cada um com a sonhada vaga de ser o principal produtor ao lado de Michael Jackson em seu novo disco, o selecionado a dedo por MJ foi o criador do gênero musical que estava em todo lugar no fim da década de 80 e início de 90, o new jack swing. Seu nome era Teddy Riley.
A partir daí, em seus próximos projetos, Michael teria muito mais autonomia como produtor e como músico propriamente dito, mesmo que, por conta de eventuais compromissos, performances, videoclipes e até mesmo atritos e conflitos com pessoas influentes, acabasse não tão presente no processo criativo de cada disco como havia sido no passado, o que não diminuiu em nada seu perfeccionismo e atenção aos detalhes em suas obras.
por Daniel Jackson