Michael Jackson, o menino que nunca teve infância, cresceu sob os holofotes do mundo. Desde seus primeiros passos no grupo Jackson 5, sua vida esteve à mercê de contratos, turnês e estúdios de gravação. Enquanto outras crianças brincavam, ele ensaiava coreografias exaustivas, gravava hits que o levariam ao estrelato e se preparava para enfrentar as expectativas implacáveis da fama.
A infância de Michael, um tesouro inestimável para qualquer ser humano, foi arrancada dele pela máquina da indústria do entretenimento. E assim, o menino prodígio se tornou o Rei do Pop, mas o preço foi alto: a perda de sua inocência e o fardo de uma vida observada com julgamentos incessantes.
Michael passou a vida inteira tentando recuperar o que lhe foi tirado. Seus refúgios eram os espaços que recriava para si mesmo, como o Rancho Neverland, uma terra de sonhos e magia que simbolizava o universo infantil que ele jamais pôde viver plenamente. No entanto, o mundo não via essa busca com a mesma doçura com que ele a enxergava. Aos olhos do público, Michael Jackson era uma figura enigmática, constantemente julgada e criticada.
Sua tentativa de compensar a infância perdida era vista por muitos como algo excêntrico ou até mesmo perturbador. Mas o que poucos percebiam era o profundo desejo de conexão com a pureza e a simplicidade que nunca teve.
Entre as obras mais tocantes de sua carreira está o curta-metragem Childhood, dirigido por Nick Brandt, que encapsula essa saudade intangível que Michael carregava consigo. Inspirado no poema “Wynken, Blynken e Nod”, de Eugene Field, o vídeo é uma fábula visual que reflete a busca incessante do cantor por sua infância perdida.
O curta é mais do que uma peça audiovisual; é uma janela para o coração de Michael Jackson. A simplicidade e a pureza das imagens contrastam com a complexidade de suas emoções. Como Peter Pan, o personagem de Walt Disney a quem Michael frequentemente era comparado, ele desejava nunca crescer, manter viva a chama da imaginação e da fantasia. Mas, diferente de Peter Pan, Michael estava preso em um corpo adulto, em um mundo que não lhe permitia o luxo da inocência.
Childhood captura essa dualidade, essa luta interna entre o desejo de se libertar e a realidade de uma vida moldada pela pressão da sociedade.
Em entrevista à fanzine francesa Black & White, o diretor Nick Brandt relembra os bastidores da criação de Childhood. Ele descreve as filmagens no coração de uma floresta, onde o ambiente natural se tornava um reflexo das paisagens emocionais que Michael queria expressar. “Era uma metáfora para sonhos de infância”, explicou Brandt. “Michael acreditava muito na ideia de sempre perseguir seus sonhos.”
Childhood é um tesouro mágico na vasta obra de Michael Jackson, uma joia rara que traduz sua essência de maneira profunda e comovente. O vídeo nos lembra que, apesar de todo o glamour e das luzes do estrelato, havia um menino dentro de Michael que nunca cresceu, que sempre olhou para o céu em busca de seus sonhos.
E talvez seja por isso que sua obra ressoa tanto até hoje — porque, por trás de cada canção, há um desejo sincero de reconectar-se com a magia da vida, com a inocência que, para ele, sempre esteve fora de alcance.