”Às vezes, olho para trás e vejo as pequenas encruzilhadas que a vida me ofereceu. Momentos em que, em vez de virar à esquerda, poderia ter escolhido a direita, ou vice-versa. Alguns anos atrás, eu poderia ter continuado na UPS, me tornado um motorista de entregas e, talvez, hoje estivesse prestes a me aposentar, carregando, no entanto, o peso de algumas cirurgias nos joelhos. Mas, em vez disso, decidi seguir um caminho diferente, mudei-me para Hollywood, um jovem engenheiro com um sonho na indústria da música.
Essas escolhas, esses caminhos, me levaram a lugares que eu jamais poderia imaginar. Um desses lugares foi onde me encontrei trabalhando ao lado de Michael Jackson. Eu gostava de algumas de suas músicas, mas não me considerava um fã. Eu estava ali para fazer um trabalho. E, de alguma forma inexplicável, ele confiou em mim, e assim nasceu uma amizade improvável, mas genuína.
Nós éramos de mundos completamente diferentes, mas podíamos conversar sobre qualquer coisa: música, Disney, feiras, comida, família, roupas, brincadeiras, brinquedos. Michael, muitas vezes retratado de forma errada pela mídia, era alguém extremamente falante e acessível. Ele gostava de contar histórias, ouvir histórias, e nós passávamos horas conversando sobre as coisas mais simples da vida. Em uma era antes dos celulares e das redes sociais, a conversa era a nossa conexão.
Lembro-me de contar a ele que minha esposa, Debbie, e eu éramos frequentadores assíduos da Disneyland. Michael adorava ouvir sobre nossas aventuras por lá. Acho que, em certo sentido, ele invejava a liberdade que tínhamos de curtir o parque sem precisar de disfarces ou seguranças. Essa liberdade, essa simplicidade, eram coisas que ele admirava e, talvez, desejava em sua própria vida.
Nossa amizade era assim: como aquelas conversas despretensiosas de segunda-feira de manhã, onde você compartilha com os amigos as histórias do fim de semana. Eram piadas bobas, trocas de doces, conversas sobre brinquedos da Disney. Nada disso parecia muito adulto, mas eu nunca fui do tipo que se encaixava em gravatas e discussões sobre finanças.
Com o passar dos anos, Michael me envolveu em mais e mais projetos. Trabalhei em álbuns como Bad, Dangerous e HIStory. Esses títulos resumem quase uma década da minha vida. Eu também estive ao lado de Bruce Swedien, o engenheiro principal de Michael, em projetos como Moonwalker e várias mixagens de dança e vídeo. E, em 1987, quando Michael comprou o rancho que se tornaria Neverland, ele me chamou de lado no estúdio e perguntou se eu poderia ajudá-lo a construir sistemas de som por lá. “Como onde?”, perguntei. “Vou comprar um trem e quero música no trem. Você pode fazer isso?”, ele perguntou. E assim, mais uma vez, nossa jornada juntos tomava um novo rumo.
A verdade é que, além dos momentos grandiosos, o que realmente importava era a pessoa que Michael era para mim e para minha família. Ele era mais do que um artista lendário. Ele era um amigo. Um amigo que, com um simples olhar, conseguia se comunicar sem dizer uma palavra.
Uma amizade de 20 anos, dessas raras, que você valoriza para a vida toda.
Penso em Michael frequentemente. Não é apenas saudade dos álbuns, dos shows, ou de Neverland. Sinto falta do meu telefone tocando às duas da manhã, minha esposa me acordando e dizendo: “É o Michael…” E então, do outro lado da linha, aquela voz tranquila: “Oi Brad, não te acordei, acordei?” E eu, mesmo meio sonolento, respondendo: “Não, Michael, não me acordou. O que aconteceu?”
Esses momentos, essas memórias, são as que guardo no coração. Porque, no fim das contas, eram esses pequenos gestos que faziam tudo valer a pena.”
por Brad Sundberg, profissional em sistemas de som