Entre Cortes e Acordes: O dia em que Michael Jackson defendeu sua música

No silêncio da madrugada, enquanto o mundo dormia, a tensão e a criatividade se entrelaçavam em uma sala de estúdio. Era o último obstáculo na produção de HIStory: Past, Present and Future, Book I, o ambicioso álbum de Michael Jackson. John VanNest, o engenheiro de gravação, estava ali, frente a frente com o Rei do Pop, com uma missão quase impossível: cortar sete preciosos minutos para que o álbum coubesse em um único CD.

Cada segundo daquela noite estava impregnado de uma intensidade quase palpável, onde cada batida, cada acorde, carregava o peso de uma obra-prima.

Michael, com a sua paixão por cada detalhe, recusava-se a sacrificar qualquer parte de sua criação. Cada corte proposto por John era recebido com um olhar que dizia mais do que palavras: “Essa é minha parte favorita do álbum!”.

A frustração e a exaustão pairavam no ar, mas a determinação de Michael em preservar a integridade de sua visão artística era inabalável. Jimmy Jam, o co-produtor, tentava amenizar a situação, elogiando as edições e ressaltando que elas realmente aprimoravam as músicas. Mas, para Michael, cada nota tinha uma alma, e cada corte era uma perda irreparável.

A magistral Earth Song abria como um hino épico à Terra, com sua orquestra arrebatadora e o comovente poema Planet Earth. They Don’t Care About Us, por sua vez, com sua batida  e o poderoso coral de vozes no final – era um grito de guerra contra a injustiça.

Como alguém poderia sequer pensar em cortar qualquer parte dessas obras-primas?Horas passaram, o relógio avançava para as primeiras horas da manhã, e a equipe, exausta, finalmente chegou a um consenso. Mas o alívio foi breve, pois Bruce Swedien, o lendário engenheiro de som, entrou na sala e pediu que John refizesse todas as edições.

A exaustão de John era evidente, mas a reverência pelo projeto e pelo homem que estava ao seu lado era maior. Com uma última força, ele se dedicou a refinar o álbum mais uma vez, sabendo que estava trabalhando com um dos maiores artistas de todos os tempos. Aquela noite, com suas frustrações e triunfos, seria gravada em sua memória para sempre.

Após a conclusão de HIStory, o estresse da produção deu lugar a um dia de pura alegria no Rancho Neverland, onde Michael, como o anfitrião generoso que era, ofereceu à sua equipe um dia inesquecível.

No final, o que ficou para John VanNest não foi apenas a lembrança do árduo processo de edição, mas a profunda admiração por Michael Jackson, não apenas como artista, mas como ser humano. Gracioso, humilde e incrivelmente talentoso, Michael era uma verdadeiro cavalheiro. Trabalhar ao lado dele não foi apenas uma experiência profissional, mas um encontro com a grandeza em sua forma mais pura.

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