Michael Jackson: O Rei do Pop que a MTV quer apagar

A história da relação entre Michael Jackson e a MTV é uma das narrativas mais reveladoras sobre o racismo estrutural na indústria do entretenimento. Quando Jackson lançou “Thriller” em 1982, ele já era uma estrela estabelecida, mas ainda enfrentava barreiras impostas pela cor de sua pele.

Um dos episódios mais emblemáticos dessa discriminação ocorreu com o clipe de “Billie Jean”, que quase não foi ao ar no canal de videoclipes mais influente da época. A MTV, que à época focava em artistas de rock branco, recusou-se a exibir o vídeo, alegando que não se adequava à sua programação. O que se seguiu foi um confronto que mudaria o rumo da emissora e, de muitas formas, a história da música.

Walter Yetnikoff, então CEO da CBS, precisou fazer uma forte pressão para que o clipe fosse exibido. Suas palavras foram diretas: ele ameaçou tirar todos os produtos da gravadora da programação da MTV e expor publicamente o preconceito racial do canal. Era uma jogada arriscada, mas que funcionou. Em março de 1983, o videoclipe de “Billie Jean” foi finalmente ao ar, marcando o início de uma nova era para a MTV. A música e o visual inovador de Michael Jackson elevaram a emissora a novos patamares de popularidade, transformando-a em uma potência cultural.

Depois de toda a controvérsia envolvendo o videoclipe de “Billie Jean” e a pressão exercida pela CBS, a MTV acabou se rendendo ao talento de Michael Jackson. Quando “Thriller” foi lançado em dezembro de 1982, o impacto do álbum foi tão imenso que mudou completamente o jogo para a emissora. Os vídeos de “Thriller” não eram apenas clipes musicais; eram verdadeiras produções cinematográficas que revolucionaram a maneira como a música pop era consumida.

O videoclipe de “Thriller”, dirigido por John Landis, tornou-se um evento cultural, com uma narrativa de terror que misturava música, dança e cinema. A MTV, que até então estava lutando para se consolidar, encontrou em Michael Jackson a peça chave que a catapultou para o sucesso global. O canal se consagrou como a principal plataforma de videoclipes, e Michael se tornou o rosto da revolução musical que se desenrolava diante dos olhos do público.

Michael Jackson não só transformou a MTV, como também estabeleceu o videoclipe como uma forma de arte essencial para a indústria da música. Ele salvou a emissora da irrelevância e a ajudou a se tornar uma potência, que, por décadas, moldaria a cultura pop mundial.

No entanto, o que deveria ser uma história de reconhecimento e gratidão se transformou em uma nova onda de invisibilização. Mais de 40 anos depois, a MTV parece empenhada em apagar o legado de Michael Jackson de sua história. A premiação que, por muitos anos, homenageava Jackson com o título de Michael Jackson Video Vanguard Award, hoje é simplesmente chamada de Video Vanguard Award. A referência ao maior artista da música pop foi estrategicamente eliminada, como se fosse possível reescrever o passado.

O que está por trás dessa decisão? Para muitos, a resposta é simples: racismo.

Em 1995, Michael Jackson deu à MTV um dos maiores presentes da história da emissora: uma apresentação inesquecível no VMA, onde ele performou um medley de seus maiores sucessos. Foi um espetáculo de brilho, carisma e talento que ainda hoje é considerado um dos momentos mais icônicos da história do canal. No entanto, em uma recente votação promovida pela própria MTV para destacar as maiores performances de sua história, a apresentação de Jackson foi vergonhosamente ignorada.

É como se a emissora quisesse apagar a memória daquele que a ajudou a se tornar o que foi.

O que torna essa narrativa ainda mais triste é a obsolescência atual da própria MTV. O canal que já foi um farol de relevância cultural, hoje se perdeu em meio a uma avalanche de artistas irrelevantes e sem o talento que outrora definiu sua programação. A premiação que já foi palco dos maiores nomes da música, hoje mal é lembrada.

E o que restou da MTV sem o brilho de Michael Jackson? Um canal que luta para manter alguma relevância em uma era onde artistas como Jackson parecem não existir mais.

O apagamento de Michael Jackson da história da MTV é, em última instância, um reflexo do racismo que ainda permeia a indústria do entretenimento. Michael Jackson, o artista negro que redefiniu o conceito de estrela pop global, continua a ser marginalizado mesmo após sua morte. E a MTV, que deveria ser uma das primeiras a honrá-lo, opta por reescrever sua história em favor de uma narrativa que apaga o legado do Rei do Pop. É uma lembrança sombria de que, mesmo quando se salva uma indústria, a cor da pele ainda pode ser um fator decisivo na forma como a história será contada.

Para aqueles que testemunharam o auge de Michael Jackson e a era dourada da MTV, o que resta é a memória de um tempo em que o talento verdadeiro prevalecia. Michael Jackson, o Rei do Pop não apenas definiu o que significa ser uma estrela; ele redefiniu o que a MTV poderia ser.

Hoje, ao tentar apagá-lo de sua história, a MTV não apenas trai o artista que a salvou, mas também trai a si mesma e seu próprio legado.

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