No final da década de 1980, Michael Jackson já não era apenas um astro pop — ele era um criador de sonhos. Com a ideia de transformar o clipe de Can You Feel It em uma experiência visual épica, Michael buscava algo que fosse muito além de um videoclipe comum.
Sua inspiração veio de um estúdio inovador, liderado por Robert Abel, cujas proezas tecnológicas e visuais Michael comparava às inovações de Walt Disney. Ele queria um curta-metragem que fosse tão impressionante quanto transformador, combinando efeitos visuais nunca antes vistos com uma mensagem de união global. Assim nasceu The Triumph, uma obra que carregava o peso do perfeccionismo de Michael, sua visão artística e sua crença no poder do cinema como um catalisador para a mudança.
O roteiro de The Triumph não foi apenas escrito — ele foi moldado em tempo real, com ideias surgindo como faíscas de criatividade durante as sessões de brainstorming. Michael Gibson, diretor artístico, trouxe sua experiência do mundo gráfico e comercial, criando um universo visual que transcendia limites. Inspirado pelo impacto simbólico de suas campanhas anteriores, Gibson, junto com o jovem diretor técnico John Gower e o cinegrafista Pat Kenly, formou um trio incansável. Trabalhando no Zoetrope Studios, propriedade de Francis Ford Coppola, eles alternavam entre os dias ocupados com comerciais e as noites intensas dedicadas ao projeto.
Foi um trabalho extenuante, mas que alimentava a visão compartilhada de que o amor e a união entre todas as raças poderiam ser celebrados de forma visualmente revolucionária.
Entretanto, a produção foi marcada por desafios, com a visão artística de Michael frequentemente chocando-se com os interesses comerciais da gravadora CBS. Enquanto a empresa pressionava por algo mais convencional, Michael insistia em uma abordagem abstrata e espiritual. A disputa culminou em uma decisão ousada: ele usaria suas próprias economias para financiar o projeto. Este gesto revelava não apenas sua paixão pela arte, mas também sua determinação em preservar sua autonomia criativa. Apesar do desgaste da equipe, a produção avançava, mesmo com mudanças de última hora, como a reformulação do final, que causou rupturas internas e a saída de Gibson.
Uma das cenas mais emblemáticas, inspirada pela série The Outer Limits, destacava a profundidade do simbolismo que Michael buscava. Ele queria incluir o ator Iron Eyes Cody, famoso por representar um nativo americano em uma campanha antipoluição. A lágrima solitária de Cody no vídeo serviria como um apelo poético pela preservação do meio ambiente, alinhando-se com a mensagem de amor e responsabilidade global que os Jacksons queriam transmitir.
Cada detalhe foi meticulosamente pensado para garantir que o curta-metragem fosse mais do que uma experiência estética — fosse um manifesto visual.
Quando The Triumph foi concluído, Michael enfrentou um novo desafio: como promovê-lo? Em uma época em que a MTV ainda dava seus primeiros passos e clipes musicais eram tratados como complementos dispensáveis, ele sabia que precisaria de aliados estratégicos. Foi então que ele recorreu ao amigo Dick Clark, convencendo-o a exibir o curta no programa American Bandstand.
A transmissão, em 19 de setembro de 1981, marcou um momento histórico, abrindo as portas para que The Triumph encontrasse seu público. Mais tarde, o curta ganhou espaço na MTV e em outros canais, consolidando seu legado como um marco na videografia musical.
Décadas depois, Can You Feel It ainda ressoa como um testemunho da visão inovadora de Michael Jackson. Lançado oficialmente em DVD no Michael Jackson’s Vision em 2010, o curta continua a inspirar, não apenas pela ousadia visual, mas também pela mensagem de amor, unidade e consciência global. The Triumph não foi apenas uma produção; foi um sonho traduzido em luz, som e emoção — a prova de que, para Michael Jackson, a arte sempre foi o verdadeiro triunfo.