As cortinas da monumental Bad World Tour mal haviam se fechado quando Michael Jackson já estava de volta ao estúdio, mergulhando de cabeça em novos projetos. Entre ideias e inspirações, surgiu um riff de guitarra pulsante, que viria a se tornar a espinha dorsal de um dos hinos mais poderosos de sua carreira: Black or White.Criado inicialmente em 1987, o esboço ganhou nova vida em 1989, quando Jackson convocou Bill Bottrell para refiná-lo. “Ele já tinha toda a introdução planejada”, revelou o compositor anos depois.Com uma melodia envolvente e uma mensagem de união, a canção nasceu em um momento de transformação global. O Muro de Berlim havia caído, os regimes totalitários da Europa Oriental ruíam, e o mundo assistia a uma nova era se desenhar. Inspirado pelo rock, Jackson queria um som que combinasse a energia explosiva de State of Shock com sua habilidade inconfundível de contar histórias através da música.O resultado foi uma canção que transcendeu gêneros e fronteiras, misturando rock, pop e rap de maneira ousada. Inicialmente planejada para a coletânea Decade, Black or White acabou se tornando a pedra angular de Dangerous, um álbum que redefiniu os padrões da música pop.Como manda a tradição jacksoniana, o lançamento do single precisava de um dueto impactante. Michael queria repetir o sucesso de The Girl Is Mine, parceria com Paul McCartney, mas sua tentativa de cantar com Madonna em In the Closet falhou. Assim, ele recrutou um dos maiores guitarristas da época, Slash, do Guns N’ Roses, para incendiar a abertura da faixa.

O encontro entre Jackson e Slash foi breve, mas marcante. “Nosso primeiro contato durou dez minutos. Ele me deixou sozinho no estúdio e disse: ‘faça o que quiser’”, relembrou Slash. Mas foi na estrada que a amizade se consolidou, com o guitarrista acompanhando Michael em performances eletrizantes.Para amplificar o impacto da canção, a introdução de Black or White foi tratada como uma cena de filme. O curta-metragem começa com um jovem (Andres McKenzie) sendo repreendido pelo pai por ouvir música alta. Revoltado, ele responde com uma explosão de som ainda mais potente, dando início à icônica faixa.A produção da música foi um espetáculo técnico. Bill Bottrell empunhou uma guitarra Kramer para criar o riff agudo que se harmoniza com a voz de Jackson, enquanto uma Gibson LG2 da década de 1940 pontua os versos. Curiosamente, o solo da ponte não é de Slash, mas de Tim Pierce, que seguiu uma influência sugerida pelo próprio Michael: o som do Mötley Crüe.Lírica, musical e visualmente revolucionária, Black or White conquistou o topo das paradas com uma força incontrolável. O single permaneceu sete semanas consecutivas no #1 da Billboard Hot 100, sendo a maior marca de Jackson desde Billie Jean. Além disso, tornou-se o single de rock mais vendido da década de 1990, consolidando-se como um dos maiores hinos de inclusão da história da música.Masi de três décadas depois, o legado de Black or White continua ecoando. A canção é mais do que um sucesso comercial: é uma declaração de intenção, uma ponte entre gêneros e culturas, um lembrete atemporal de que a música tem o poder de unir o mundo.Michael Jackson sabia que sua arte transcendia barreiras. E Black or White é a prova definitiva de que sua música era, e sempre será, universal.