Quando se ouve os primeiros segundos de “Beat It”, algo quase místico invade os ouvidos. Não é apenas o riff matador de Eddie Van Halen, nem o vocal irresistível de Michael Jackson. Há um peso na bateria, uma pulsação que parece vir de outro universo. Mas poucos sabem que esse som icônico nasceu de um acidente inusitado dentro do estúdio — e da genialidade incansável do Rei do Pop.

Era mais um dia de gravação do lendário álbum Thriller, no Westlake Studios, em Los Angeles. Enquanto um assistente organizava o espaço para mais uma sessão, uma prateleira cedeu e um tubo de ferro caiu sobre uma caixa acolchoada que guardava um bumbo. O barulho ecoou pelo estúdio. Todos olharam assustados. Todos, menos um. Michael Jackson, que naquele momento, parou — não de susto, mas de fascínio.

A maioria dos artistas talvez ignorasse aquele ruído ou o classificasse como um contratempo. Mas Michael era diferente. Seu radar criativo estava sempre ativo, mesmo nos momentos mais banais. “O que foi isso?”, ele perguntou. Alguém respondeu: “Um tubo caiu em cima do bumbo dentro da caixa”. Michael não apenas ouviu o som. Ele sentiu. Algo naquele impacto incomum o capturou.

Imediatamente, chamou o engenheiro de som Bruce Swedien. Pediu um microfone. E ali mesmo, no calor do momento, começou a bater no bumbo com o tubo de ferro, testando ângulos, forças, superfícies. Ele estava esculpindo som com as próprias mãos. Não procurava apenas um efeito. Procurava uma emoção. Algo visceral. Algo que fizesse “Beat It” pulsar como nunca antes se tinha ouvido em uma canção de rock e pop.

O processo foi meticuloso e intuitivo. Michael não era apenas um cantor ou dançarino — era um escultor de atmosferas. Após dezenas de batidas e testes, encontraram o som perfeito. Um ruído percussivo, denso e metálico, que lembrava tanto uma explosão quanto uma ameaça. Esse elemento foi incorporado à pós-produção da bateria já gravada por Jeff Porcaro, lendário baterista conhecido por seu trabalho com o Toto. O resultado? Um monstro sonoro, capaz de atravessar décadas.

Michael estava tão envolvido no processo que seu nome apareceu nos créditos de “Beat It” com um título peculiar: Drum Case Beater. Um gesto simbólico que traduz o quanto ele se entregava a cada detalhe, a cada nota. Ele não queria apenas cantar canções. Queria criar mundos sonoros que ninguém jamais tivesse pisado antes.

Essa história é mais do que uma curiosidade de estúdio. Ela revela a essência de um artista que nunca aceitava o óbvio, que transformava o imprevisto em arte. Se outros músicos dependiam de instrumentos e partituras, Michael Jackson dependia da sua percepção sobrenatural, da sua coragem em seguir o instinto, por mais absurdo que ele parecesse.

E assim, no coração de uma canção que grita por liberdade e enfrentamento, está o som de um acidente que virou arte. É justo dizer: nem todo acidente causa danos. Alguns, como esse, constroem lendas.

One Comment

  1. Se existe uma canção que pode ser considerada uma cápsula do tempo é Beat it. Essa faixa este para a música dos anos 80 assim como Flashdance está para o cinema. Foi a primeira vez em que Michael mostrou um lado mais Rock and roll, não só musicalmente, mas também na atitude. Naquele momento ele deixou seu lado Black music um pouco de lado para experimentar algo mais radical, com guitarras estridentes e baterias pulsantes. Curiosamente, no filme ” De volta para o futuro 2″, o Marty McFly viaja de 1985 até 2015 e lá chegando, entra no Museu dos anos 80, onde a música que toca ao fundo é Beat it, já se previa a relevância e imortalidade que a canção voria a ter.

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