Há homenagens que surgem para manter aparências. E há aquelas que vêm da alma, brotadas da dor sincera de quem perdeu um pedaço da própria história. Foi assim que Stevie Wonder emocionou o mundo ao homenagear Michael Jackson no 25º aniversário do Rock and Roll Hall of Fame, poucos meses após a morte do Rei do Pop, em uma performance que marcou para sempre a memória coletiva da música.
Michael Jackson faleceu em 2009, deixando um vácuo não apenas na indústria, mas no coração de muitos colegas e amigos íntimos. Entre eles, Stevie Wonder. Os dois compartilharam momentos únicos, tanto em estúdio quanto fora dele. Em duas ocasiões durante os anos 1980, colaboraram musicalmente — a primeira, na faixa “Just Good Friends”; a segunda, na histórica gravação de “We Are The World”, ao lado de nomes como Lionel Richie, Diana Ross e Cyndi Lauper.
A homenagem prestada por Stevie aconteceu em uma noite especial, televisionada e assistida por milhões, no lendário Madison Square Garden, em Nova York, dezembro de 2010. A escolha da canção foi certeira: “The Way You Make Me Feel”, lançada em 1987 no álbum Bad, uma das obras-primas de Jackson. Stevie subiu ao palco ao lado de John Legend, que o acompanhava ao piano, enquanto ele próprio comandava o teclado.
Mas ninguém esperava o que viria. Quando começou a cantar os versos da música, Stevie Wonder se mostrou tomado pela emoção. Sua voz tremeu, o peito pesou. Em um momento cortante, parou de cantar, encostou a cabeça no teclado e chorou. A plateia, em silêncio, entendeu: aquilo não era um show. Era luto. Era amor:
O público viu então um Stevie vulnerável, humano, um artista gigante desarmado pela ausência de outro gigante. Ele levou as mãos ao rosto, numa tentativa de conter as lágrimas, e por segundos que pareceram eternos, o tempo congelou. A música parou. Mas quando voltou, voltou com força. E Wonder, firme, terminou o tributo com a dignidade e grandeza de quem ama profundamente a arte e seus irmãos de estrada.
O gesto simples e poderoso ecoou. Não era apenas uma homenagem, era um adeus. Mas também um reconhecimento da genialidade de Michael, não apenas como artista, mas como ser humano, alguém que tocou corações com sua voz, dança e compaixão.