No coração de cada grande obra artística pulsa uma verdade íntima. No caso de HIStory: Past, Present and Future, Book I, de Michael Jackson, essa verdade é visceral. É o álbum mais pessoal de sua carreira. Michael não apenas canta: ele narra. Ele não apenas compõe: ele desabafa.
Lançado em 1995, HIStory foi concebido como uma simples coletânea, mas logo se transformou em algo muito maior — e muito mais revelador. Um grito entre o céu e a dor. Um manifesto contra a injustiça. Um livro, como o próprio Michael descreveu, “um livro musical”.
“Eu não queria que o álbum fosse sobre músicas velhas”, confessou. E essa confissão muda tudo. HIStory, então, deixa de ser apenas uma antologia e se ergue como um monumento — uma dualidade musical que mistura os maiores sucessos do Rei do Pop com um disco de inéditas que expõe, sem filtros, suas mágoas, frustrações e esperanças. É como se Michael estivesse dizendo: “Vocês conhecem minhas canções, mas agora ouvirão minha alma”.
O álbum nasce do choque entre a glória e a queda. Após o escândalo de 1993, Michael precisou se reinventar — e mais do que isso, se defender. Faixas como “Scream”, “They Don’t Care About Us” e “Stranger in Moscow” são súplicas e acusações, poesia e denúncia, arte e escudo. É Michael enfrentando o mundo com a única arma que sabia manejar com maestria: sua música. E o que ouvimos ali é um gênio ferido, mas jamais derrotado.
O título HIStory é, em si, um jogo de espelhos. “His Story”, “Sua História” — uma biografia sonora onde o passado encontra o presente e aponta para o futuro. Uma obra pensada como a primeira de uma série (daí o subtítulo Book I), que propunha nada menos que eternizar a presença de Michael no imaginário cultural não só de sua era, mas de todas as que viriam. Ele não queria apenas ser lembrado. Queria ser compreendido.
HIStory é mais do que um disco. É o testemunho de um homem pressionado pela fama, perseguido pela mídia, mas ainda guiado por uma fé inabalável no poder da criação. É sua defesa. Sua revolta. Sua esperança. Seu coração transformado em som.
Se há um legado eterno de Michael Jackson, ele está ali — entre as batidas furiosas de “Scream” e a serenidade triste de “Childhood”. Porque ali está o artista em sua forma mais crua: não apenas o Rei do Pop, mas o homem por trás da coroa.