Ilustração MJ Fake Songs (IA)

Breaking News ou Faking News? A fraude que manchou o álbum póstumo de Michael Jackson

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Durante 12 anos, fãs denunciaram: três músicas do álbum Michael não foram cantadas por ele. A Sony insistiu — até ser desmascarada na Justiça.

Em dezembro de 2010, a Sony Music e o espólio de Michael Jackson lançaram o álbum Michael, com 10 faixas inéditas, incluindo três músicas polêmicas: “Breaking News”, “Keep Your Head Up” e “Monster”. A promessa era de um relançamento da genialidade de MJ para as novas gerações. Mas o que veio à tona foi uma das maiores fraudes já vistas na história da música.

Essas músicas — que ficaram conhecidas como faixas Cascio — foram entregues à Sony pelo amigo da família, Eddie Cascio, e seu parceiro James Porte, que afirmaram que Michael as gravou em 2007 no porão da casa de Cascio. O problema? Segundo a família Jackson, os vocais não eram de Michael. E eles não estavam sozinhos.

A família soou o alarme

Antes mesmo do lançamento do álbum, membros da família Jackson alertaram: os vocais não eram de Michael. A mãe do cantor, Katherine Jackson, seus irmãos Randy, Jermaine, La Toya e Jackie, e seus sobrinhos Taryll, TJ e Taj (do grupo 3T) afirmaram publicamente que as músicas eram falsas.

Mas seus alertas foram ignorados.

A Sony e o espólio alegaram ter feito uma investigação minuciosa, com peritos forenses e produtores que teriam garantido a autenticidade dos vocais. O encarte do álbum estampava a frase: “All vocals performed by Michael Jackson”.

A música “Breaking News” foi liberada antecipadamente no site oficial de MJ em 8 de novembro de 2010 — e a recepção foi imediata: milhares de fãs denunciaram que a voz não era de Michael. A reação da Sony? Desacreditar os próprios fãs.

Jason Malachi: o nome por trás da voz?

A suspeita sobre a verdadeira voz recaiu sobre o cantor Jason Malachi, conhecido por soar muito parecido com MJ. Seu antigo produtor, Tony Kurtis, declarou publicamente que “não havia dúvida” de que era Malachi cantando. Laudos periciais reforçaram a acusação: o vibrato, a dicção e até o sotaque não correspondiam ao de Michael — mas batiam com o de Malachi.

Um dos peritos, Dr. George Papcun, concluiu que partes das músicas usaram ad-libs retirados de canções anteriores de MJ, como “Earth Song”, e foram inseridos nas faixas falsas para simular autenticidade.

Em 2018, Malachi contratou um advogado e teria se preparado para confessar — pedindo inclusive que as músicas fossem relançadas com seu nome. Mas, segundo os advogados de Vera Serova (fã que moveu o processo), a Sony cancelou uma reunião de última hora e rompeu contato com o advogado do cantor.

A batalha judicial e a vitória dos fãs

Indignada, a fã Vera Serova entrou com uma ação coletiva contra a Sony, o espólio de Michael, Eddie Cascio e James Porte, alegando fraude e propaganda enganosa.

A briga judicial se estendeu por oito anos. Inicialmente, a Sony tentou se eximir da responsabilidade, alegando que “não sabia” que os vocais eram falsos. A Suprema Corte da Califórnia rejeitou esse argumento, afirmando que desconhecimento não isenta uma empresa de responsabilidade quando promove um produto como autêntico.

Em 2022, Serova venceu: a Justiça determinou que a descrição no encarte do álbum era publicidade enganosa. Dias antes do julgamento, Sony e o espólio decidiram remover as faixas Cascio de todas as plataformas digitais. O álbum Michael foi relançado em versão reduzida, sem as músicas contestadas.

Nenhum centavo, só justiça

Importante: Vera Serova não recebeu dinheiro algum no acordo. Sua única exigência era a retirada das músicas falsas do catálogo oficial de Michael Jackson. Ela conseguiu.

Mesmo com a remoção das faixas, a Sony nunca pediu desculpas nem ofereceu reembolso aos fãs que compraram o álbum enganados. E os CDs físicos com as faixas ainda circulam no mundo todo, mesmo após o veredito judicial.

Conclusão: a luta valeu a pena

O caso das faixas Cascio mostra o poder da mobilização de fãs bem-informados e determinados. Durante mais de uma década, a Sony e o espólio defenderam publicamente músicas que sabiam estar sob suspeita. A remoção dessas faixas não apenas limpa o catálogo de Michael Jackson — mas também restaura parte de sua integridade artística.

Não foi apenas sobre vocais falsos. Foi sobre respeito à arte.


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