Entre Lentes e Lendas: Um encontro íntimo com Michael Jackson
Na memória de Dave Hogan, fotógrafo britânico que dedicou boa parte de sua carreira a capturar ícones da música, há um instante que se destaca não pelo glamour, mas pela simplicidade crua. Aquele dia, ele não estava num palco iluminado, nem em um set grandioso. Estava num camarim apertado, sob luzes e espelhos manchados, quando Michael Jackson entrou — discreto, silencioso e surpreendentemente… humano.
“Ele suava”, diz Hogan, com um riso quase contido, como se aquela imagem ainda o espantasse. “Tudo o que eu conseguia pensar era: ‘Oh meu Deus, Michael transpira’.” Não era o Rei do Pop que surgia ali diante dele, mas um homem — de carne, osso e poros. Para alguém acostumado a registrar lendas, o realismo daquele instante se impôs com força brutal. A aura de divindade se dissolveu, ainda que por um breve segundo.
Jackson o cumprimentou com um sorriso tímido, como quem sabe que está sendo observado, mas aceita a presença do outro com uma gentileza contida. Eles trocaram algumas palavras, nada profundo. Hogan sabia o terreno em que pisava. “Como fotógrafo, você precisa ter cuidado para não fazer perguntas que os façam pensar que você está entrevistando”, relembra. “Se você começa a cavar, eles se fecham. É como se dissessem: ‘Isto é uma entrevista ou uma sessão de fotos?’”
Esse cuidado com a linha tênue entre o profissional e o pessoal era o que permitia a Hogan acessar esses momentos preciosos — não com perguntas, mas com silêncio. Não era a câmera que se aproximava de Michael, era a atenção respeitosa que abria espaço para ele ser simplesmente… ele mesmo. E, por vezes, é nesses espaços que as verdades mais tocantes emergem, não ditas, mas sentidas.
O momento foi rápido, sem revelações bombásticas, sem poses ensaiadas. Mas ficou cravado na memória do fotógrafo com a força de algo sagrado. Era como se, por trás das lentes, Dave tivesse enxergado uma rachadura no pedestal. E ali, entre o suor e a timidez, o mito ganhava contornos de homem.