A consciência que Michael Jackson tinha do poder simbólico da imagem foi muito além do show business. No início dos anos 90, enquanto o mundo ainda absorvia os ecos do fim do Apartheid, o Rei do Pop planejou algo que ia muito além de um simples clique. Pediu a seu fotógrafo pessoal, Harrison Funk, que o retratasse ao lado de duas figuras históricas: Elizabeth Taylor e Nelson Mandela. A intenção não era apenas guardar uma lembrança — era deixar um registro que falasse ao mundo.
“Mandela estava tão animado para conhecer Michael”, lembra Funk, em entrevista ao jornalista Thomas Hobbs, do The Guardian. O líder sul-africano havia viajado aos Estados Unidos com toda sua família apenas para o encontro.
A reunião era íntima, mas seu simbolismo era gigantesco. Harrison não queria uma pose tradicional, e sugeriu algo espontâneo: que os três pulassem nas costas uns dos outros e se abraçassem. Liz Taylor protestou por causa das dores nas costas, e Mandela brincou dizendo estar velho demais. Mas o que Funk captou foi mais do que uma fotografia — foi a alegria de um momento carregado de significado histórico.
Enquanto as câmeras descansavam, os três conversavam sobre assuntos sérios: o futuro da África, a luta contra a Aids, os direitos das mulheres e a fome que assolava o continente. Funk, silencioso no canto, testemunhava um momento de bastidores que dificilmente seria recriado. Ali estavam três figuras de mundos diferentes, unidos pela coragem de desafiar estruturas e pelo desejo comum de provocar mudanças reais.
Michael Jackson sabia que aquela foto poderia ajudar Nelson Mandela em sua campanha presidencial na África do Sul. Ele entendia o impacto que uma imagem poderosa pode ter em uma era movida a manchetes. Não foi coincidência que, junto com Liz Taylor, ele tenha feito uma doação generosa à candidatura de Mandela. Era mais que amizade: era um ato político disfarçado de solidariedade.
Harrison Funk, que acompanhou Michael durante anos, não tem dúvidas sobre o paralelo: “Michael era como o Mandela da música. Ele quebrou barreiras, enfrentou preconceitos e abriu caminho para artistas negros no cenário global.” Era verdade. Jackson foi um dos primeiros superstars negros a conquistar o planeta, e sabia que seu alcance poderia ser usado para algo muito maior que o entretenimento.
A foto de Michael, Mandela e Liz Taylor não é apenas um retrato bonito de três celebridades. É uma imagem que carrega o peso de um tempo, de lutas e de esperança. Para Funk, foi o ápice de sua carreira. Para Michael, foi a certeza de que a arte também pode servir como ferramenta de transformação. E para o mundo, um lembrete: quando ídolos se unem por causas reais, a história se move.

por Thomas Hobbs, The Guardian