Michael Jackson: Entre o Amor e o Segredo
“In the Closet” não é apenas uma música – é uma confissão velada, uma performance sobre o desejo que se esconde atrás de portas trancadas. Lançada em 1992, como parte da megaprodução do álbum Dangerous, ela já nasceu envolta em mistério e transgressão.
Concebida inicialmente como um dueto com Madonna, a colaboração foi desfeita quando Michael Jackson recusou a letra proposta por ela. E, paradoxalmente, foi nessa recusa que ele encontrou sua própria forma de ousar: uma ambiguidade poética, provocativa, que se tornou uma de suas marcas mais refinadas.
O título por si só já é uma provocação. “In the Closet” brinca com o simbolismo de esconder segredos, especialmente quando falamos de sexualidade. Mas Jackson subverte expectativas desde a primeira linha: “Don’t hide your love / Woman to man.”
Em um tempo em que o mundo enfrentava as sombras da epidemia da AIDS e as discussões sobre identidade ainda engatinhavam, Michael entrega uma obra que flerta com a exposição e o recato, a carne e o espírito, o público e o íntimo. O crítico Jon Pareles, do New York Times, não hesita: “é a melhor música do álbum.”
Sonoramente, “In the Closet” é uma obra-prima experimental. A música começa com um piano elegante, mas logo mergulha em um universo sensorial: vidros quebrando, portas batendo, dedos estalando, gemidos e grunhidos – uma orquestra de tensão sexual e industrial. Tudo sobre ela soa íntimo e ao mesmo tempo incontrolável. A batida foi criada por Jackson no seu gravador portátil e depois refinada com Teddy Riley, que relembra a obsessão de Michael com os detalhes. “Foi exatamente como ele queria”, diz Riley.
O videoclipe, dirigido pelo lendário fotógrafo Herb Ritts, é um capítulo à parte. Filmado em um cenário desértico da Califórnia, Michael contracena com Naomi Campbell em uma dança de luxúria e contenção. Os movimentos dele – ora agressivos, ora poéticos – revelam um domínio corporal quase espiritual. Não há beijo, mas o clima é de combustão. E na cena final, Michael dança em silhueta, dentro da soleira de uma porta – metáfora visual perfeita para o tema da canção.
“In the Closet” representa um momento em que Michael Jackson desafiou o mundo a olhar além das aparências. Ele canta sobre um amor que não pode ser dito, vivido abertamente. E é justamente aí que a faixa se torna universal. Quem nunca desejou algo que o mundo mandava esconder? Quem nunca sentiu o impulso de abrir a porta, e o medo de cruzar o limiar?
Hoje, mais de três décadas depois, “In the Closet” ainda soa atual, incômoda e bela. Não é só uma música sobre desejo – é um espelho sobre o que escondemos de nós mesmos. Michael nos provoca, nos seduz e nos desafia. E no fim, a pergunta que fica é: você teria coragem de abrir essa porta?