Michael Jackson foi o rei absoluto dos Grammys em 1984. Naquele ano, com o impacto avassalador de Thriller, ele levou para casa oito estatuetas em uma única noite, consolidando-se como o maior nome da música mundial. Mas bastaram apenas quatro anos para que a mesma Academia que o ovacionou virasse as costas. Em 1988, o álbum Bad, que havia quebrado recordes históricos, saiu praticamente de mãos vazias. Para muitos, não foi apenas uma negligência — foi uma afronta.
Jackson já havia sentido o gosto amargo do descaso antes. Quando lançou Off The Wall, um trabalho ousado e revolucionário para seu tempo, viu seu esforço ser limitado às categorias de R&B. Ele ganhou apenas um Grammy. A frustração foi tamanha que o motivou a se reinventar por completo. O resultado? Thriller. Mas nem mesmo esse renascimento artístico garantiu justiça futura. Com Bad, ele voltou a ser ignorado em categorias que verdadeiramente refletiam o impacto de sua obra.
O álbum Bad marcou história ao colocar cinco músicas no topo da Billboard, um feito inédito até então. E mesmo assim, em 1988, das quatro indicações que recebeu — incluindo Álbum do Ano — Jackson não levou nenhum prêmio. Em 1989, Man in the Mirror também perdeu como Gravação do Ano.
Dois anos depois, ele ganhou o Grammy de Melhor Vídeo por Leave Me Alone, mas o prêmio veio fora de tempo, quase como um consolo atrasado.
Ver o maior artista do planeta sair sem reconhecimento, após um trabalho tão poderoso, foi um choque para o público. Em vídeos da época, é possível ver Michael visivelmente abatido na plateia. Aquele silêncio da Academia soava mais alto do que qualquer discurso, especialmente para um artista que havia redefinido os limites da música, da dança e do videoclipe. Era como se Bad tivesse sido punido por não ser Thriller.
Depois daquele ano, Michael se distanciou das grandes premiações. Sua ausência falava por si. Ele só voltou ao palco dos Grammys em 1993, para receber o prêmio pelo conjunto da obra. Mas os momentos em que a Academia teve a chance de reconhecê-lo pelo que ele estava fazendo no auge, ela escolheu se calar. Muitos fãs e especialistas passaram a questionar se havia algo mais por trás dessas decisões — como o racismo velado e o desconforto de ver um homem negro no topo absoluto da indústria.
A história de Michael Jackson com os Grammys não é só sobre troféus — é sobre reconhecimento, respeito e espaço. Em um setor onde tantos artistas negros foram ignorados ao longo das décadas, o caso de Jackson se destaca. Ele foi premiado quando a pressão popular era impossível de ignorar, mas nos anos seguintes, parecia que a Academia queria “equilibrar” o jogo, diminuindo seu brilho.
Hoje, décadas depois, Bad continua sendo um dos álbuns mais influentes da história. Canções como, Man In The Mirror, Smooth Criminal e The Way You Make Me Feel ainda ecoam em novas gerações. Os Grammys podem ter fechado os olhos naquele momento, mas o mundo nunca esqueceu. E no fim, talvez esse seja o maior reconhecimento de todos.