Aos 14 anos, Kobe Bryant já sabia que sua busca pela grandeza seria solitária. Ele não queria apenas jogar bem. Queria ser imparável. Na Filadélfia, onde cresceu competindo com as irmãs mais velhas, aprendeu a não esperar incentivo. Na Itália, onde o pai jogava profissionalmente, ele se aprofundou no basquete com uma obsessão que assustava até quem o amava. Não havia espaço para distrações — nem para amizades.
Na adolescência, em Lower Merion High School, Kobe não jogava para vencer. Jogava para esmagar o adversário. Ignorava olhares tortos e advertências. Enterrava quando uma bandeja bastava. A mensagem era clara: “Estou sozinho nisso.” Em 1996, já no Lakers, virou alvo de piadas dos veteranos. O apelido era “Showboat”. Para eles, Kobe era apenas um garoto arrogante. Mas para Jerry West, o gerente da equipe, ele era familiar. “Fale de um companheiro de equipe isolado”, disse West. “Eu era da mesma maneira.”
No verão seguinte, enquanto malhava sozinho em Venice, na Califórnia, o celular de Kobe tocou. A voz do outro lado disse: “Oi, é o Michael.” Kobe respondeu: “Michael quem?”. “Michael Jackson”, veio a resposta. Kobe achou que era trote. Não era. O Rei do Pop havia observado o jovem jogador de longe. Queria conversar. Queria dar um conselho. “Continue fazendo o que você está fazendo. Não se misture só para agradar. Não seja normal.”
O encontro dos dois aconteceu no lendário Neverland Ranch, onde Michael Jackson morava. Kobe, então com 18 anos, se sentiu compreendido pela primeira vez fora das quadras. Eles jantaram frango com legumes orgânicos e falaram sobre obsessão, solidão e genialidade. “Eu sei como é ser diferente”, disse Jackson. “Aceite isso.” Ao final da noite, Michael lhe entregou um livro: Jonathan Livingston Seagull — a história de uma gaivota que se recusa a ser comum.
Depois do jantar, Jackson levou Kobe para seu teatro particular. Lá, apresentou filmes clássicos, explicou o processo por trás de Smooth Criminal e de Billie Jean, e mostrou a linhagem de suas músicas. “Você precisa estudar todos os grandes nomes”, aconselhou. “Veja o que fizeram certo. Veja onde erraram.” Foi uma aula de vida, arte e estratégia.
Na volta para casa, com o porta-malas cheio de filmes e livros, Kobe dirigiu pelas montanhas da Califórnia com a cabeça fervendo. Trazia de Neverland mais do que um tanque cheio — trazia uma missão. Um novo olhar sobre sua obsessão. Michael não lhe deu apenas conselhos, lhe deu permissão para ser incompreendido. Para ser brilhante.
Naquela noite, Kobe não dormiu. Devorou os filmes, o livro e até A Lei do Triunfo de Napoleon Hill. O presente de Jackson era mais do que cultura pop ou nostalgia. Era uma convocação para a excelência, feita por alguém que sabia o custo de se destacar. E esse chamado moldaria para sempre o homem, o competidor — e a lenda — que Kobe Bryant se tornaria.