”Conhecer Michael Jackson era, para mim, a realização de um sonho que carreguei por toda a vida. Eu estava nervoso, ansioso, quase sem ar, como qualquer grande fã que se vê diante de seu maior ídolo. Sabia que ele era conhecido por sua excentricidade, mas nada me preparou para o que realmente encontrei: um homem caloroso, curioso, divertido e nada temperamental. Era quase como reencontrar alguém que você já conhecia.
O que mais me marcou, no entanto, foi a forma como ele se transformava quando Janet Jackson estava por perto. Ele se tornava ainda mais carinhoso, brincalhão, quase um irmão mais velho superprotetor. Era visível o amor e o cuidado que ele tinha por ela. Aquela conexão fraternal, silenciosa e sincera, falava mais alto do que qualquer palavra que pudesse ser dita. Foi nesse detalhe íntimo que entendi o coração de Michael: um homem que, apesar da fama, ainda colocava a família em primeiro lugar.
Sim, sua aparência era incomum e, para muitos, chamava atenção no primeiro momento. Mas isso passava rápido. Michael tinha a rara habilidade de focar completamente em quem estava diante dele. Essa atenção genuína o tornava imensamente cativante. Ele não falava sobre si com vaidade. Ao contrário, preferia ouvir, perguntar, se interessar. Quis saber da minha infância, dos meus filmes favoritos, da minha religião. E quando falamos sobre cinema, me impressionei com seu conhecimento profundo, especialmente sobre filmes estrangeiros.
Minha mãe, que me acompanhou ao set, virou sua fã no primeiro instante. Michael a tratava com um carinho desarmante: pedia para ela segurar seu casaco enquanto filmava, a abraçava e beijava todos os dias antes de ir embora. Ela dizia que tinha ganhado um novo melhor amigo. Aquilo não era encenação. Era a essência de alguém que gostava genuinamente de pessoas, mesmo sendo a pessoa mais famosa do mundo.
Mas havia um contraste. Quando as câmeras começavam a gravar, aquela figura gentil se transformava em algo quase divino. Era como presenciar uma força que tomava conta dele. Era metafísico, difícil de explicar com palavras. Estar a poucos metros de sua performance era sentir os pelos do corpo arrepiarem. Era como ver um dom se manifestar ao vivo, sem cortes. Um espetáculo que jamais vou esquecer.
Michael Jackson era diferente. Um artista que levava a arte a sério como poucos. Quando você comprava um disco dele, sabia que estava levando uma experiência única. Ele se comprometia com a excelência, nunca fazia nada pela metade. Trabalhar com ele era estar diante de alguém que buscava o estado da arte. Artistas assim são raros. E quando aparecem, inspiram o mundo.”
por Mark Romanek, diretor do vídeo Scream de Michael Jackson