Poucos artistas no planeta carregaram tanto o peso da perfeição quanto Michael Jackson. Mais do que um ícone pop, ele era uma força da natureza em movimento: dançava como ninguém, cantava como poucos e, ainda assim, era apenas um homem. Pessoas próximas relatam que sua timidez extrema e perfeccionismo absoluto o levavam, às vezes, a recorrer ao playback em determinados trechos de seus shows. Não por falta de talento, mas por medo de falhar. O medo não era do erro em si, mas de decepcionar os milhões que esperavam a impecabilidade.
Quem em sã consciência arriscaria um deslize com o mundo inteiro vigiando? Michael sabia que a crítica espreitava cada respiração fora do tempo, cada nota fora do tom. Ele respirava arte, mas também carregava ansiedade. E foi em 1988, durante a segunda fase da Bad World Tour, que ele começou a usar trechos de playback – um recurso pontual, calculado, estratégico. A estreia dessa nova fase aconteceu em Roma, em 23 de maio de 1988, já no circuito europeu.
O que muitos não sabem é que grande parte da Bad Tour foi feita 100% ao vivo. A fase americana de 1988, assim como os espetáculos em 1987 no Japão e na Oceania, mostram um Michael Jackson em sua plenitude vocal. O playback era exceção, nunca regra. Usado com inteligência, ele garantia que as coreografias intensas – e únicas – não comprometessem a entrega vocal nos shows mais exigentes.
“Thriller” era um desafio quase sobre-humano. No documentário Bad Tour Around The World, o próprio Michael admitiu que esta era uma das canções mais complexas de executar ao vivo. A combinação de interpretação teatral, vocais e dança precisava de total controle físico.
Talvez por isso ela só tenha sido apresentada ao vivo nessa turnê. Era preciso coragem para encarar aquele nível de entrega – e Michael a teve, mesmo sabendo que poderia ser julgado.
Por trás do brilho, havia esforço. Por trás do gênio, havia um homem. Michael Jackson não fugia da perfeição – ele apenas sabia que até o extraordinário tem seus limites. E se recorrer ao playback era a maneira de manter o padrão que seus fãs esperavam, então não era trapaça. Era respeito. Era amor à arte. Era profissionalismo de alguém que, mesmo sob pressão global, se recusava a entregar menos que o máximo.