
Desde os anos 80, Michael Jackson enfrentou ataques sistemáticos da mídia sensacionalista, e nenhum tabloide foi tão insistente e cruel quanto o The Sun. Além de espalhar boatos sobre sua vida pessoal, o jornal britânico popularizou um dos apelidos mais ofensivos já usados contra o Rei do Pop: “Wacko Jacko”, que, traduzido de forma honesta, significa “Macaco Doido”.
O uso constante dessa expressão não foi acidental. O The Sun sabia exatamente o que estava fazendo ao aplicar esse rótulo a um homem negro bem-sucedido. O apelido não apenas ridicularizava Michael, mas também carregava um forte peso racista e xenofóbico, reforçando estereótipos usados historicamente contra afro-americanos.
A Origem e o Significado do Termo
Embora “Jacko” pareça uma simples abreviação de “Jackson”, a palavra tem um histórico racista. No século XIX, o termo era usado de forma pejorativa para se referir a macacos, e essa conexão foi amplamente utilizada para desumanizar pessoas negras.
O The Sun não apenas adotou esse apelido, como ainda acrescentou “Wacko” (doido), reforçando a narrativa de que Michael Jackson era um excêntrico, instável e fora da realidade. A mensagem subliminar era clara: Michael, um homem negro que desafiou padrões e dominou a cultura pop, precisava ser ridicularizado e rebaixado.
Michael detestava esse apelido. Ele chegou a pedir publicamente que a imprensa parasse de usá-lo, mas foi ignorado. A mídia sensacionalista sabia que esse tipo de linguagem vendia jornais e reforçava a visão de Michael como uma “aberração” – um artista negro que ultrapassou todas as barreiras e que, para eles, não deveria estar no topo.
Lançamento de Álbuns e o ataque Xenofóbico do ‘The Sun’
Mesmo depois de anos de sucesso e reconhecimento mundial, o The Sun não parou com os ataques. No lançamento dos álbuns “HIStory” (1995) e “Invincible” (2001), o jornal britânico publicou uma manchete vergonhosa:
“Wacko Jacko is Backo on Tracko”
Essa frase não apenas insistia no apelido racista, como também imitava um sotaque estrangeiro de forma caricata, sugerindo que Michael Jackson, sendo um afro-americano, era inferior, pouco sofisticado e digno de zombaria.
Essa abordagem carrega dupla discriminação:
- Xenofobia contra americanos – A imprensa britânica sempre teve uma postura condescendente em relação aos Estados Unidos, muitas vezes retratando o país como inculto, exagerado e até caótico.
- Racismo contra afro-americanos – O tom da manchete reforça a ideia de que Michael não era digno de respeito, associando-o a uma linguagem infantilizada e estereótipos que há séculos são usados para rebaixar pessoas negras.
É importante notar que nenhum outro astro branco americano foi tratado dessa forma pela mídia britânica. O The Sun nunca chamou artistas como Elvis Presley, Frank Sinatra ou Bruce Springsteen de “Wackos”. Isso deixa claro que o ataque contra Michael não era apenas sobre sua fama, mas sobre quem ele era e o que representava.
Michael Jackson e a Luta Contra o Racismo
Michael sempre usou sua voz para falar sobre injustiça racial. Canções como “They Don’t Care About Us”, “Black or White” e “HIStory” trouxeram mensagens explícitas sobre desigualdade e preconceito. Ele sabia que enfrentava um sistema que não aceitava ver um homem negro no topo da indústria musical, e que tabloides como o The Sun fariam de tudo para minar sua imagem.
Mas o que a mídia não contava é que, mesmo diante de tantos ataques, Michael Jackson seguiu invencível. Seu legado artístico e sua influência cultural continuam mais fortes do que nunca, enquanto as manchetes racistas do The Sun caíram no esquecimento.
A Importância de Questionar a Mídia
O caso de Michael Jackson mostra como o racismo e a xenofobia ainda estão enraizados na forma como a mídia trata figuras negras de sucesso. Quando um jornal usa apelidos pejorativos para um dos maiores artistas da história, está enviando uma mensagem: “não queremos que você esteja aqui”.
Mas os fãs sabem a verdade. Michael Jackson ainda é o maior artista de todos os tempos – e nada que o The Sun tenha publicado pode apagar isso.
📌 O macaco de briga que virou insulto racial

Em 1821, um macaco chamado Jacco Macacco era atração principal em lutas de apostas em Londres. Este cartaz histórico anuncia seu “grande combate” contra uma cadela de 19 libras, realizado no Westminster Pit, local conhecido por entretenimentos cruéis como lutas de cães, texugos e até ursos.
O nome “Jacco” (ou Jacko) rapidamente virou gíria popular para “macaco” na Inglaterra do século XIX. Mais tarde, o termo passou a ser usado como forma de desumanizar pessoas negras, especialmente em contextos coloniais e racistas.
Esse é o berço do termo “Jacko” — que tabloides como o The Sun passaram a usar em “Wacko Jacko”, zombando de Michael Jackson e reforçando estereótipos racistas. A imprensa sabia o peso desse apelido, mas usou mesmo assim.
🧾 Fonte da imagem: Cartaz britânico original de 1821 – combate de Jacco Macacco no Westminster Pit.
📚 Referência complementar:
- Jael Rucker, The Racist Origins of “Wacko Jacko” – Medium
- The Atlantic / Nine – Por que você deve parar de chamar Michael de “Wacko Jacko”