Fãs leem o jornal com Michael sendo inocentado no julgamento de 2005.

D.S. – A música que expôs a obsessão de um promotor contra Michael Jackson

Em 1995, enquanto a mídia ainda explorava os escombros de sua reputação, Michael Jackson fez o que sabia fazer de melhor: transformar dor em arte. Dentro de seu álbum mais pessoal e catártico, HIStory, ele lançou uma faixa intitulada “D.S.”. À primeira vista, o título parece enigmático. Mas os versos, o tom e a raiva cuidadosamente esculpida na melodia deixam pouco espaço para dúvidas: a música é um ataque direto a Tom Sneddon, promotor que liderou a investigação contra Michael em 1993.

Na letra, Michael fala sobre um homem do sistema que o odeia, um promotor obcecado em destruir sua imagem, alguém que “tem olhos de cobra” e “trabalha para o FBI”. O nome “Dom Sheldon” é apenas uma fina camada de proteção legal: a pronúncia na música é idêntica a “Tom Sneddon”, e a mensagem, absolutamente clara. Michael não estava apenas magoado. Ele estava sendo caçado.

Um promotor com agenda pessoal

Thomas W. Sneddon Jr. era promotor do condado de Santa Barbara. Em 1993, liderou a primeira investigação contra Michael Jackson, mesmo sem que houvesse sequer uma acusação formal inicial. Quando Michael se recusou a ceder ao jogo da imprensa e da chantagem, Sneddon tentou forçar uma condenação pública, mesmo sem provas criminais suficientes. Quando o caso foi encerrado com um acordo civil — contra a vontade de Michael —, Sneddon continuou a lançar indiretas públicas, investigando e monitorando a vida do artista por anos.

E então veio 2003. Após uma década, o promotor reaparece como protagonista de uma segunda ofensiva judicial, desta vez baseado em acusações frágeis, contraditórias e envolvendo uma família que já havia sido investigada por fraude. Foi Sneddon quem arquitetou, reuniu e deu aval para um processo que se provaria infundado, baseado em depoimentos mutantes e evidências inexistentes.

Isso não é justiça. É obsessão.

O poder da música como denúncia

“D.S.” foi um aviso. Um grito artístico de quem estava cansado de ser alvo da manipulação de um sistema sedento por um troféu. Michael não podia usar nomes diretamente, mas usou sua arte para denunciar o que muitos evitavam: a perseguição institucionalizada, a criminalização do negro bem-sucedido, a espetacularização de uma vida sob ataque constante.

Sneddon jamais processou Michael por essa música. Talvez porque soubesse que processar seria admitir que “D.S.” era sobre ele. Ou talvez porque, naquele momento, já estivesse tramando sua próxima jogada, como de fato aconteceu menos de dez anos depois.

Quando a justiça falha, a história precisa lembrar

Tom Sneddon faleceu em 2014. Michael, por sua vez, nos deixou em 2009 — exausto, abalado, fisicamente destruído pelos anos de perseguição pública e legal. O promotor que nunca conseguiu provar suas acusações venceu apenas em desgaste. Ele teve a chance de envelhecer com sua família, enquanto Michael viu sua saúde e sua alma serem lentamente minadas por batalhas que jamais deveriam ter existido.

É impossível ouvir “D.S.” hoje sem sentir um nó na garganta. A música é um registro eterno do que acontece quando alguém com poder usa a Justiça como instrumento de vingança, não de verdade.

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Tom Sneddon em 13 de Junho de 2005, após absolvição de Michael Jackson.

Nota: Tom Sneddon faleceu em 2014. A justiça pode ter sido feita nos tribunais, mas muitos anos de vida de Michael Jackson poderiam ter sido poupados se Sneddon não tivesse transformado sua obsessão pessoal em uma cruzada judicial para se tornar um “district attorney” famoso às custas de um inocente.