I. Uma estátua contra o silêncio

Lançado em 20 de junho de 1995, o álbum HIStory – Past, Present and Future, Book I não foi apenas mais um projeto musical de Michael Jackson. Foi um grito monumental em forma de disco duplo, dividido entre passado e presente, nostalgia e confronto, legado e denúncia.
Mais que um álbum, HIStory é um documento. Um protesto impresso em vinil e prensado com dor. Michael estava sob ataque — da imprensa, da opinião pública e de seus próprios demônios internos. E respondeu à altura, erguendo a própria imagem como uma estátua de 10 metros, imortalizada na capa do álbum e em réplicas espalhadas pelo mundo.
Não havia mais espaço para pedidos de desculpa. HIStory era o contra-ataque.
II. O teaser, a mídia e a provocação visual

Antes mesmo de ouvirmos uma única faixa, Michael já havia deixado claro que HIStory não seria modesto. Em uma jogada publicitária sem precedentes, ele lançou um teaser cinematográfico, exibido nos cinemas da Europa, que mostrava o próprio Jackson marchando entre tanques de guerra, escoltado por soldados e ovacionado por multidões — tudo isso ao som da trilha “Hymn to Red October”, composta por Basil Poledouris.
A estética do vídeo era militarizada, com símbolos que remetiam a estátuas soviéticas e esculturas como The Motherland Calls. Para o público não acostumado à linguagem visual grandiosa de Jackson, o teaser soou como megalomania. Para a crítica, uma provocação perigosa. Houve comparações — rasas, diga-se — com ditadores e regimes autoritários. A controvérsia agradou à mídia, que se apressou em ridicularizar o clipe, ignorando o contexto: Jackson estava respondendo a uma década de perseguições públicas, com a mesma linguagem épica com que sempre construiu sua carreira.
A estátua do álbum, inspirada em poses heroicas e monumentais, não era sobre poder, mas sobre resistência. O teaser, da mesma forma, não era sobre dominação, mas sobre um artista que se recusava a desaparecer em silêncio.
III. A concepção de HIStory
Michael Jackson começou a trabalhar no álbum HIStory em 1994, com sessões que se estenderam até março de 1995, em estúdios como o The Hit Factory, em Nova York. A ideia inicial era lançar uma coletânea para celebrar sua trajetória. Mas o projeto rapidamente mudou de rumo.

O resultado foi um disco duplo. No primeiro, HIStory Begins, Jackson revisita seus maiores sucessos como solista. No segundo, HIStory Continues, ele se volta ao presente — e o presente, para ele, era um campo de batalha.
Depois de tudo o que havia enfrentado em 1993, incluindo as acusações infundadas que abalaram sua saúde e reputação, Michael optou por transformar a dor em música. E, como já fizera antes, usou sua experiência como matéria-prima. Foi assim com “Speed Demon”, escrita após levar uma multa e ser aconselhado por Quincy Jones a compor algo sobre a raiva do momento. Em HIStory, esse princípio volta mais afiado, mais contundente.
O time de colaboradores foi robusto. Estavam lá nomes como Jimmy Jam & Terry Lewis, Dallas Austin, R. Kelly, além de participações pontuais como Slash, Shaquille O’Neal, The Notorious B.I.G. e a própria Janet Jackson, em um dueto que abriu o disco com um soco duplo: “Scream”.
Artistas grandes também estavam em rota de colisão com a crítica naquele período. Madonna, por exemplo, havia respondido ao backlash de Erotica com “Human Nature”. Mas Michael não reagia com ironia ou desprezo. Ele respondeu com fúria, com dor, com verdade escancarada — e com um senso de justiça que beirava o profético.
HIStory deixava claro que, dessa vez, não haveria concessões.
IV. O legado de HIStory

Na época de seu lançamento, HIStory dividiu a crítica. Parte da imprensa não soube lidar com o tom combativo das novas músicas. Acusaram Michael de “vitimismo”, “exagero”, “paranoia”. E, como de costume, ignoraram o que ele dizia para focar em como ele dizia.
Ainda assim, o álbum foi indicado a seis Grammys e rendeu a Michael um VMA por “Scream”. Vendeu mais de 20 milhões de cópias no mundo todo, se tornando o disco duplo mais vendido da história. Mas sua relevância não está nos números. Está na coragem.
Com o tempo, HIStory passou a ser visto por muitos como o trabalho mais pessoal, político e vulnerável de Michael Jackson. Um álbum onde ele não apenas se defende, mas acusa — com provas, com indignação e com a força de quem conhece os bastidores da indústria como ninguém.
As gerações seguintes redescobriram as faixas de protesto, os videoclipes ousados e o impacto visual do projeto. A estátua virou item de colecionador. O teaser virou símbolo de resistência artística. E as músicas… continuam ecoando nas ruas, nas redes, nos fones de quem entendeu que HIStory é mais do que um álbum.
É uma confissão em alto volume.
É um pedido de socorro que virou monumento.